quarta-feira, 16 de novembro de 2016

bruce lee's the big boss - 1971

o netflix disponibilizou - não sei quando - the big boss, conhecido como o dragao chines em portugues. a versao do netflix so tem audio em portugues e espanhol disponiveis, entao basicamente so da pra ver como a gente ja conhece, a versao dublada mesmo de sessao da tarde.

a dublagem e legenda raramente combinam completamente, e sao um registro do trabalho de tradução e dublagem da epoca, que nao deve ter sido facil, mas, ou incomoda por ser aquele portugues correto e lavado que nem encaixa com o que falamos nem encaixa com o contexto dos personagens, ou vira motivo de piada por si só, o que tira da intençao original do filme.

com exceção dos habitos asiaticos, a coisa parece muito como se tivesse sido filmada num sitio em pernambuco ou numa cidade de interior. as cenas mostram com sinceridade os ambientes, isso reforça minha visao que voce pode fazer um filme num lugar fudido sem que o lugar fudido seja o tema. o tema de the big boss tambem nao eh a arte marcial, a luta. ao contrario dos filmes de van damme, que tem historias bem nojentinhas e mal desenvolvidas so pra mostrar lapada de cabo a rabo. the big boss eh sobre um jovem que vai a uma nova cidade, acaba tendo que lidar com uma operaçao de trafico de drogas responsavel pela morte de tres de seus amigos e nesse caminho tem que se resolver com sua moral e principios. ele nao luta por boa parte do filme, por pedido da sua mae, que o deu um amuleto para faze-lo lembrar, e so começa a lutar quando se ver forçado a isso. quando rola o primeiro pau mermo que bruce lee dalhe com a porra acontece talvez a parte mais importante do filme, o gerente da fabrica saca que ele eh bom e o promove a contramestre. essa promoçao o tira da sua busca original, que era de buscar pelos seus amigos sumidos e demora pra ele reencontrar seu objetivo, que eh bom, o filme da um tempo pra voce ver o personagem sendo enganado, sofrendo a rejeicao dos amigos e tendo que ser mais forte, ate decidir cair matando.

eh muito interessante como as regalias de ser contramestre sobem a cabeça dele e o enganam, e como isso eh tipo uma atitude planejada do gerente pra tirar ele de junto dos outros trabalhadores e o colocar como aliado.

esses filmes da epoca bruce lee eram cortados e censurados devido a violencia demais, mas as cenas cortadas nao tiram a crueza e falta de piedade do filme, isto eh, mal pode-se dizer que ha um final feliz, todomundo que acolheu cheng chao an basicamente morre a mando do chefe do crime, o motivando a ser resoluto em buscar vingança sem poupar ninguem de uns tapas porque mainha mandou.


a sinceridade com o cenario eh uma das coisas que mais gosto em filmes, a historia de um filme normalmente eh capaz de tocar a qualquer humano se bem contada, historias nos tocam pois todos somos capazes de nos identificar com outros humanos, com as mesmas preocupaçoes e sentimentos que nos. o cenario entra pra dar contexto, e eh fatidicamente o cenario e objetos que cercam aquele criador no seu cotidiano. o cenario vai dar um contexto cultural, e eh melhor ainda quando eh algo tao natural para o criador que se integra ao filme com essa mesma naturalidade.

as ruas sao de terra batida, beiradas de grama e plantas, as casas sao de madeira, tem uns lençois estendidos ao longo da casa, que eh onde a galera dorme  nuns tatames ou papeloes mesmo, com o lençol servindo de mosquiteiro, a mesa pra refeiçoes eh uma baixinha e a galera come sentada no chao. o big boss eh o bom, cheio da grana, por isso o terreno parece um sitio arborizado, varias palmeiras, arvores tropicais, tudo demarcado por aquela classica mureta que da metade pra cima eh arame farpado. como ele eh foda a casa dele eh de tijolo e cobogo e bem branquinha de cal.

a galera que luta mais um pouco usa as roupas mais tradicionais, o resto da galera se veste mais setentao mesmo calça social cinto e camisa, ate na hora do pau, e quem eh mais velho pode andar de camisa aberta e o bucho de fora sem problemas.

tanto os bons quanto os maus tem plantas, o escritorio do gerente parece bem fengshui, eh elevado do chao, passa um riacho embaixo da escada e tem umas plantinhas alem das arvores. na varanda ele pratica sua arte marcial. a madeira parece mais nobre, mais marrom e mais escura. a madeira da fabrica e das outras casas eh aquela meio cinza e manchada, que ja levou muita chuva.

a trilha sonora eh uma incognita. tem musica que remete mais ao country americano, tem trechos que eu diria parecer encaixado com uma coisa mais asiatica, e nos momentos de suspense botam um trecho de uma musica que se nao me engano eh de yes em outro momento rolou um trechinho de king crimson.

no final, cheng chao an liberta a prima e unica sobrevivente da casa onde ele morava e eh preso pela policia depois de matar o big baus.


segunda-feira, 14 de novembro de 2016

pensamentos sobre orange is the new black


meu problema com orange is the new black esta sendo o tom. os personagens parecem bem reais, uma prisao bem real. tem abuso de poder, tem abuso sexual, mas tambem nao eh aquele lugar exagerado onde a qualquer momento podem lhe enfiar uma shiv entre as costelas.

o tom, acontece pela fotografia, pela soundtrack e por meio de alguns temas e personagens. a forma como a historia eh contada se assemelha muito a uma serie de colegio, feito community, feito qualquer uma. tem a fila da comida nas refeicoes, tem a conversa de mesa, e em que mesa voce pode sentar, tem divisoes de classes, embora ao mesmo tempo nao tem, tem tomadas de corredor, e office conversations.

a dinamica entre os personagens eh a mesma quase com a dinamica em outros ambientes, e os personagens são todos meio aliviados por algum elemento comico. a musica faz boa parte disso. uma mulher morre de overdose e o policial que a encontra faz parecer suicidio por sufocamento, logo depois uma inmate gravida ta vomitando e tem uma conversa engraçadinha sobre ser burro e ter filho e etc. assim, eh bem crivel a coisa da cadeia, mas eh contada de uma forma leve, que quase contrasta com a propria historia.

eh como se voce tivesse visto a historia toda em outros contextos. talvez o elemento principal pra mim, é a parte das historias sobre falta de poder e contraste entre vidas e situacoes. essas historias sao, por exemplo, o contraste entre a vida de piper e a do seu fiancee. ou de piper ou qualquer inmate nesse caso, com um dos guardas. eh aquela coisa normal de filme que faz vc ficar puto ate alguem se resolver, normalmente no começo do terceiro ato.

muitos dos atritos, como o de piper e seu namorado me parecem poder ser resolvidos bem mais facilmente, com uma conversa mais razoavel entre eles, mesmo no pouco tempo de telefone e visitacoes, ou so estao la pra irritar mermo.

outra coisa que incomoda eh que a personagem principal parece clueless, e talvez isso so seja assim poruqe a serie nos deixa entrar na cabeca dela muito pouco. oitnb eh a adaptacao de um livro, de uma mulher que realmente foi pra cadeia. acredito que a serie nao eh muito representativa da sua experiencia, teria que ler pra ver a diferenca mas estou imaginando que o tom do livro pode ser diferente.

seria muito bom mostrar ela escrevendo, mas essa parte eh completamente negligenciada - ate o episodio 10 pelomenos - e atrapalha o realismo pra mim, que uma serie nova, ainda precise se ater a estrutura velha de contar historias. rolaria muito facil incluir momentos que ela escreve, a coisa do blog que foi criado, also, eu nem sabia ainda que essa serie era baseada em fatos reais, e em um livro, mas no momento que o fiancee pensou em escrever sobre a coisa de ter uma mulher prisioneira, e, antes disso ate, se voce parar pra pensar, no momento em que ela sabe que vai pra prisao, e o futuro marido eh escritor, a + b, ta feito, nao tem misterio. mesmo que nao existisse blogs e internet, ela poderia escrever o que ela quisesse e entregar para o marido nas visitacoes.

alem disso, pessoas inteligentes e estudadas - e estudadas sobre escrever - que sao os personagens de piper e larry, deviam saber lidar um pouco mais abertamente e melhor, sobre como escrever e abordar o assunto de forma publica, ao inves disso, ate o decimo episodio a forma como larry escreve sobre o assunto e o torna publico no radio parece bem idiota, pouco pensada. novamente espero que o livro seja melhor e mostre que ela pensou mais e eles trabalharam juntos pensando sobre a forma de escreverem e se publicarem.



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a historia dela, a real, parece muito mais interessante, e por algum motivo eu sinto uma fraqueza na historia da serie antes mesmo de saber da historia real. no caso, larry real tem mais carne, tem mais complexidade, trabalhava na epoca numa revista, agora tem sua propria. larry da serie é o velho cliche de aspiring writer e faz um certo breakthrough com a historia da sua namorada. ele eh striped out da historia do seu equivalente na vida real para servir apenas como um antagonista a piper na primeira temporada.