segunda-feira, 27 de maio de 2013

Os jogos e a emoção

Diversas vezes eu me encontrei na situação de mostrar um jogo para alguém e tal jogo ser recebido com menos entusiasmo que o esperado. Recentemente eu acho que entendi o porque, e agora me parece muito simples.

O jogo é um novo meio de comunicação, uma nova forma de contar histórias, e está lado a lado com o texto, a imagem, o filme e a música em potencial. Enquanto eu pensava nisso meu cachorro apoiava sua cabeça no meu colo e eu acariciava seu pelo com uma mão, olhando pra tela do computador, nas cenas finais de Journey, um jogo exemplar. Daí eu notei que pelomenas não me recordo de histórias contadas se valendo do tato. Usamos da visão e da audição para contar histórias a um público. Com tato, paladar e olfato relembramos, regozijamos e contamos histórias à nós mesmos.

Mas o texto, a imagem, o filme, a música e o jogo são interdependentes, e dependem inclusive dos sentidos por elas não explorados, na forma de uma biblioteca de lembranças que podem ser acessadas pela história a ser contada, para enriquece-la, intencionalmente ou não, da parte tanto do criador como do público.

Como se estivéssemos adicionando a complexidade e riqueza das nossas histórias ao passo que evoluímos, trazemos imagem, texto e som para compor nossas obras, desnecessário especificar, mas esse três elementos já se encontram unidos no teatro e possivelmente em diversas outras situações antes mesmo de se desenvolver a gravação de som e imagem.

Dentro do mesmo meio, a imagem, apenas passando da estática para a dinâmica, ou da foto para o filme, há uma mudança, com o movimento é adicionado dimensão, o tempo permite outras composições que a imagem estática não permite. E do filme para o jogo
– não que necessariamente o surgimento desse meio se dá como uma mutação do primeiro, mas na verdade se inicia puramente pela idéia de jogo, de brincadeira, imitando mecânicas simples do mundo físico de forma simplificada, como o jogo de tabuleiro –
se adiciona outras dimensões que novamente incrementam em potencial de composição, incluindo até o tato, e outros elementos interativos característicos do jogo, em grupo.

No jogo é adicionado à imagem e ao som um movimento mais complexo que o do filme. O movimento controlado pelo jogador tem o potencial de inseri-lo profundamente na experiência, porém demanda dele autonomia, capacidade de atuar e dirigir a vivência. Para isso o público deve se familiarizar com a interface que o permite interagir com a obra, mover câmera e personagem.

Aí se encontra um dos motivos da minha frustração ao apresentar jogos a não jogadores. E eu percebi isso mostrando um jogo a uma amiga. Outras vezes eu percebi que para apreciar o jogo faltava o entendimento do sentido, objetivo, que é algo necessário de ser clarificado para o leigo que encara o jogo digital a semelhança de um jogo de tabuleiro, um jogo casual, de metas simples. A capacidade de aceitar um contexto dado e de resolução de problemas é algo que acelera a compreensão e entendimento do funcionamento e do seu papel como jogador. E em geral, se eu me refiro ao potencial das artes de provocar experiências emotivas, outro fator – que felizmente não me recordo ter enfrentado em grande volume – é a sensibilidade à elas, que muitas vezes vem com a educação oferecida e a que é dada a si mesmo.

Mas foi desta vez, ao mostrar um jogo a essa amiga, que cumpre todos os prerequisitos acima para entender e apreciar, quando percebi esse fator óbvio: faltava a ela apenas a familiaridade com a interface, o controle. Controlar algo demanda muito do humano. Aprendendo a usar o próprio corpo (a primeira interface) ou qualquer objeto, maquinário como carros entre diversos outros, vãos isolar nossa concentração nisso, fora isso, todo o efeito das imagens e som passarão despercebidos enquanto você estiver se empenhando a manter o personagem numa direção e a câmera em outra e ainda se encontrar geograficamente no espaço virtual.

É uma questão que perdura, como comunicar com sucesso, pois o que quer que seja, encontraremos divergências nos conhecimentos necessários para entender a mensagem. Nesse caso acaba que as novas dimensões adicionadas foram um impecilho para apreciar, e aí talvez seja melhor mostrar o jogo, como um filme, para depois trabalhar na capacidade de jogar.

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