quinta-feira, 1 de junho de 2017

mulher classe media caga as calças ao ver um preto fudido na rua

uma pessoa desce as escadas de um edificio empresarial ladeado em marmore. avista atravessando a rua uma figura, carregando um saco de latas no ombro, olha pra cima com o rosto, sem desentortar sua coluna curvada. preto feito seu short adidas que só da pra ver onde começa por causa da corda que amarra a cintura do short velho de liga estourada.

o olho branco e no meio uma cor esbranquiçada do mesmo tom das suas sambucelhas, imagine um velho fudido. ele parou ainda olhando pra essa pessoas agora parada no meio da escada, levantou uma mao, fez um grunhido.

a pessoa das escadas parou nao sabe porque, olha no olho, suas maos mexem em coisas que ela nao sabe mais que esta segurando, troca de posição os livro, guarda chuva e chave do carro. esperando

essa pessoa travou que nem sentiu, ela tava esperando o tem um trocado ai dotora mas o velho nem sequer fala mais. a mao preta oscilava entre gestos e a boca do alto da escadaria murmurou um automatico tem nao-foimal com um movimento de pena sobrancelhar igualmente programado. enquanto isso ela realmente pensou se nao tinha umas moedas que podia se desfazer.

mas ai o gesto da mao do velho-preto-fudido-pobre era só um legal mesmo e ele tava dando boa tarde. a pessoa era uma mulher mas eu nao queria dizer antes porque não importa, um cara podia se comportar da mesma forma, é um basico acovardamento de classemedia com medo do mundo dos fudidos que tem que carregar lixo pra casa pra sobreviver.

depois desse tilt o celebro da pessoa pode voltar a funcionar porque estava com a vida segura. a pessoa terminou de descer as escadas e por meio segundo acompanhou com o olhar a bela e contraditoria imagem desse exemplar de gente ignorada andando pela calçada linda de piso intertravado, a sua direita arvores e carros brilhantes e metalicos, a sua esquerda um paredão de marmore refletivo, tudo bonito como um recifense gosta.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

the oa

não recomendo. no sidewatch essa serie eh uma coisa que voce consegue ver ate o fim, mas nao eh nada muito rico pra voce levar a serio e assistir prestando atencao.


primeiro problemao com essa serie, mas tem que ser proposital ou pelomenos a galera tava consciente na hora de fazer, é a sensação de semelhança com sound of my voice, um filminho que eh mermo isso ai, e com a mesma atriz, eh tanta coincidencia que chega atrapalha a concentracao no começo.

sound of my voice eh sobre uma nega que se diz ter vindo do futuro, ela se encontra no basement de uma casa e conta suas lorotas pra seus seguidores. o filme fica no ponto de vista de duas pessoas que querem expor a fraude dela. no final voce fica ainda sem saber se era lorota ou nao, mas o filme nao quer te dar certeza, quer deixar aberto e no final voce viu uma coisa que nao foi pra frente o tempo inteiro, que pode ter sido so mentira e que nao interferiu em nada no mundo dos personagens. exceto no relacionamento entre eles, que eh a unica coisa que voce pode dizer que realmente aconteceu. mesmo assim eh muito pouco para um filme inteiro, ou uma serie inteira.

the oa eh a mesma coisa descritinha disso ai. a diferença sendo que ha bem menos ceticismo da parte dos seguidores e a serie pende para o lado de lhe fazer acreditar que ela esta contando a verdade, mais pro final apenas que eles dao uma sacudida na sua certeza so pra poder fechar o ultimo ep deixando uma duvida, mas nem precisava. pra mim so enfraquece a obra.

o fato de ser escrito e atuado pelas mesmas pessoas, brit marling e zal batmanglij ainda piora tudo. so parece que eles quiseram apenas reciclar a ideia, porque nao eh diferente o suficiente pra vc identificar como outra obra, nem eh igual o suficiente pra voce dizer que eh um remake, esta num limbo, um intermedio que incomoda. se nao fosse dos mesmo autores poderia ser definitivamente taxado como plagio por tanto de semelhança.

o que muda eh que em sound of my voice ela eh do futuro e em the oa ela eh um anjo dentre 5 que se tornaram assim devido a ter morrido e voltado (near death experience, que eles abreviam para nde).


insipiencia eh talvez a palavra para apontar o verdadeiro incomodo que ambas historias passam. a incerteza sobre a vericidade da historia unido a verdadeira falta de poder dos personagens para tomar uma atitude a respeito do que esta ouvindo, e principalmente, a mudança de ponto de vista que te tira da ação da historia principal e te coloca como ouvinte causa o choque que nao te deixa se aprofundar no universo e se sentir parte dele.

a serie tem o agrave em comparaçao com o filme, de sustentar a historia por 7 episodios e depois entregar uma soluçao anticlimatica para a historia de capitividade da personagem, para novamente entregar outra solução pouco climatica para a historia no presente, dos seus ouvintes.


para completar, os outros elementos que compoem a historia parecem pouco desenvolvidos ou cliches demais para te deixar imerso, e quando questionados certos elementos, na duvida de se realidade ou lorota do personagem principal acabam contaminando toda a historia.

exemplos disso sao
- o background russo super clichezao, de filha paparicada de familia russa de pai solteiro, pai morre, menina vai para os eua pra ser criada numa situaçao fudida de pobreza. tem mais de um cliche ai fundidos.
- a escrotisse da mae adotiva de nomear a filha de praire devido aos olhos da menina QUE EH CEGA. sacanagem do caralho. sacanagem em cima de sacanagem.
- o vilao super estereotipado tambem, rico vivendo num cenario ermo e exotico.

quando voce começa a duvidar das realidades da serie fudeu, porque voce pode contestar em varias camadas.
- todos os momentos de encontro no fbi onde os cenarios estao sempre completamente desertos. realidade ou ilusao?
- os livros com cara de novos embaixo da cama dela
- pode ter havido sequestro porem sem experimentos, ou pode ter acontecido experimentos mas sem ser num lugar dramatico como uma mina abandonada.

por fim, o estilo de episodios de historinha contada pela metade pra deixar misterio, coisa que ja cansou, tipo lost, e que pra funcionar tem que ser muito bem executada, e que no caso de the oa eu ja sei que nao assistiria uma segunda temporada por isso. sei que vai ser uma historia travada que nao vai pra frente propositalmente convoluta pra no final vc nem saber o que aconteceu mesmo.

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

pensamentos incompletos sobre gilmore girls


uma serie que nao envelheceu bem. super aclamada, e indicada por todos especialmente apos a entrada no netflix imendada com o novo filme, gilmore girls esta junto a arquivo x no saco de series que nao aconteceriam se fossem ser feitas hoje em dia.

a serie tem um arco de historia solido, as vidas de rory e lorelai gilmore e a relação com os pais de lorelai a partir do momento que ela pede um emprestimo a eles para pagar a escola de rory. tem um bom fechamento por temporada concluindo sempre com algum grande acontecimento como o casamento de sookie ou a graduação de rory, os episodios fecham seus pequenos arcos, não deixam cliffhangers, mas continuam suavemente evoluindo as historias pendentes que vão se moldando com os acontecimentos.

hoje em dia é raro ver series de comedia com a duração de 40 minutos, gilmore girls é uma comedia-drama mas com pouquissimo foco no drama, poderia se encaixar bem em episodios de 20 minutos.

lorelai da o tom para a serie e o resto dos personagens, ela sempre faz uma piada, quase nunca fala serio e tem um grande problema com seus pais. a forma como a relação com os pais nunca muda em 4 temporadas realmente me faz pensar se existe em gilmore girls algo de seinfeld no sentido de os personagens simplesmente nao aprenderem com seus erros e experiencias.

o status quo é dado logo no primeiro episódio com o pedido do emprestimo e a obrigação de ir jantar, algo que perdura por tres anos, ate lorelai conseguir pagar o emprestimo, nesse tempo a maioria dos encontros com os pais envolvem as discussões gritadas classicas da serie, com alguns poucos episodios de calmaria e ate momentos que parece que há alguma esperança de mae e avo começarem a se relacionar bem. com o fim do emprestimo percebemos que lorelai nao aprendeu nada em todos esses anos e ainda prefere evitar completamente os pais.

as gilmore girls são perfeitas
as protagonistas raramente erram e suas vidas sao tranquilas exceto pelo que elas sofrem. elas estão no centro da serie nao so como protagonistas mas como exemplos de como ser e raramente suas açoes sao questionadas, exceto quando o debate é e entre as duas, que tambem gera a rara situaçao onde algo pode ser resolvido com um pouco de sensatez e algum lado abrindo mao.

plot telegrafado
não é preciso se esforçar para saber o que vai acontecer, o plot é telegrafado há quilometros e voce basicamente ja sabe o que vai acontecer, basta esperar. relacionamentos, breakups, discussoes. é tudo extremamente previsivel.


toda piadinha e tiração de onda atinge o alvo
na estrutura de dialogos de gilmore girls sempre existe algo para ser piada ou tiração de onda, sempre existe como incomodar alguem.

discussoes gritadas

inexistencia de conversas serias

rory é uma anta emocional

- o incendio do hotel e o roubo do carro de jess foram ferramentas de plot que poderiam ser trabalhadas melhor e foram simplesmente largadas no meio da historia pra dar a desculpa de algo acontecer.

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na season 5 a coisa começa a mudar um pouco, finalmente luke e lorelai se pegam e o romance ja começa direto como uma coisa seria e pra durar. rory, no entanto, continua tapadinha e nesses 4/5 anos so pegou dois caras e so transou com dean, tem gente dando em cima dela de bolo na faculdade mas ela nem ve, ate chegar esse cara novo que nem lembro o nome, o cara da sociedade secreta que eh OBVIO que vai entrar pra fazer bagunça quando rory tava se estabelecendo de novo com dean.

ai voce ve como gilmore girls tem uma estrutura de novelinha mesmo. tem que rolar um draminha pra ter discuçaozinha e eh assim que a serie anda.

no resumo de rory a gente ve que ela é ate um personagem unico, inteligente, le pra caralho e conversa tete a tete como o avo sobre assuntos. ela eh um personagem massa de uma mulher que no need no man. no entanto ela é romanticamente nula e nao ve um palmo na frente dela emocionalmente. ela se ve dentro de situaçoes que nao sabe como começaram e os escritores, como em todos dialogos, dao uma otica limitada do mundo e das possibilidades a personagem.

pode ser uma questao do tipo de publico a quem estavam tentando dirigir a serie, depois de dean ela so se apaixona por maloqueiro, gente com caracteristicas totalmente falhas e que vao de encontro a que ela eh. primeiro jess, que de em comumn so tem a coisa de ler muito. segundo agora o mamao da sociedade secreta.

o pior eh que ela ve os defeitos dessas pessoas mas depois eles crescem nos olhos dela por meio de outras ações, mas em nenhum momento, se redimem dos seus defeitos principais que continuam os tornando incompativeis com ela.


quarta-feira, 16 de novembro de 2016

bruce lee's the big boss - 1971

o netflix disponibilizou - não sei quando - the big boss, conhecido como o dragao chines em portugues. a versao do netflix so tem audio em portugues e espanhol disponiveis, entao basicamente so da pra ver como a gente ja conhece, a versao dublada mesmo de sessao da tarde.

a dublagem e legenda raramente combinam completamente, e sao um registro do trabalho de tradução e dublagem da epoca, que nao deve ter sido facil, mas, ou incomoda por ser aquele portugues correto e lavado que nem encaixa com o que falamos nem encaixa com o contexto dos personagens, ou vira motivo de piada por si só, o que tira da intençao original do filme.

com exceção dos habitos asiaticos, a coisa parece muito como se tivesse sido filmada num sitio em pernambuco ou numa cidade de interior. as cenas mostram com sinceridade os ambientes, isso reforça minha visao que voce pode fazer um filme num lugar fudido sem que o lugar fudido seja o tema. o tema de the big boss tambem nao eh a arte marcial, a luta. ao contrario dos filmes de van damme, que tem historias bem nojentinhas e mal desenvolvidas so pra mostrar lapada de cabo a rabo. the big boss eh sobre um jovem que vai a uma nova cidade, acaba tendo que lidar com uma operaçao de trafico de drogas responsavel pela morte de tres de seus amigos e nesse caminho tem que se resolver com sua moral e principios. ele nao luta por boa parte do filme, por pedido da sua mae, que o deu um amuleto para faze-lo lembrar, e so começa a lutar quando se ver forçado a isso. quando rola o primeiro pau mermo que bruce lee dalhe com a porra acontece talvez a parte mais importante do filme, o gerente da fabrica saca que ele eh bom e o promove a contramestre. essa promoçao o tira da sua busca original, que era de buscar pelos seus amigos sumidos e demora pra ele reencontrar seu objetivo, que eh bom, o filme da um tempo pra voce ver o personagem sendo enganado, sofrendo a rejeicao dos amigos e tendo que ser mais forte, ate decidir cair matando.

eh muito interessante como as regalias de ser contramestre sobem a cabeça dele e o enganam, e como isso eh tipo uma atitude planejada do gerente pra tirar ele de junto dos outros trabalhadores e o colocar como aliado.

esses filmes da epoca bruce lee eram cortados e censurados devido a violencia demais, mas as cenas cortadas nao tiram a crueza e falta de piedade do filme, isto eh, mal pode-se dizer que ha um final feliz, todomundo que acolheu cheng chao an basicamente morre a mando do chefe do crime, o motivando a ser resoluto em buscar vingança sem poupar ninguem de uns tapas porque mainha mandou.


a sinceridade com o cenario eh uma das coisas que mais gosto em filmes, a historia de um filme normalmente eh capaz de tocar a qualquer humano se bem contada, historias nos tocam pois todos somos capazes de nos identificar com outros humanos, com as mesmas preocupaçoes e sentimentos que nos. o cenario entra pra dar contexto, e eh fatidicamente o cenario e objetos que cercam aquele criador no seu cotidiano. o cenario vai dar um contexto cultural, e eh melhor ainda quando eh algo tao natural para o criador que se integra ao filme com essa mesma naturalidade.

as ruas sao de terra batida, beiradas de grama e plantas, as casas sao de madeira, tem uns lençois estendidos ao longo da casa, que eh onde a galera dorme  nuns tatames ou papeloes mesmo, com o lençol servindo de mosquiteiro, a mesa pra refeiçoes eh uma baixinha e a galera come sentada no chao. o big boss eh o bom, cheio da grana, por isso o terreno parece um sitio arborizado, varias palmeiras, arvores tropicais, tudo demarcado por aquela classica mureta que da metade pra cima eh arame farpado. como ele eh foda a casa dele eh de tijolo e cobogo e bem branquinha de cal.

a galera que luta mais um pouco usa as roupas mais tradicionais, o resto da galera se veste mais setentao mesmo calça social cinto e camisa, ate na hora do pau, e quem eh mais velho pode andar de camisa aberta e o bucho de fora sem problemas.

tanto os bons quanto os maus tem plantas, o escritorio do gerente parece bem fengshui, eh elevado do chao, passa um riacho embaixo da escada e tem umas plantinhas alem das arvores. na varanda ele pratica sua arte marcial. a madeira parece mais nobre, mais marrom e mais escura. a madeira da fabrica e das outras casas eh aquela meio cinza e manchada, que ja levou muita chuva.

a trilha sonora eh uma incognita. tem musica que remete mais ao country americano, tem trechos que eu diria parecer encaixado com uma coisa mais asiatica, e nos momentos de suspense botam um trecho de uma musica que se nao me engano eh de yes em outro momento rolou um trechinho de king crimson.

no final, cheng chao an liberta a prima e unica sobrevivente da casa onde ele morava e eh preso pela policia depois de matar o big baus.


segunda-feira, 14 de novembro de 2016

pensamentos sobre orange is the new black


meu problema com orange is the new black esta sendo o tom. os personagens parecem bem reais, uma prisao bem real. tem abuso de poder, tem abuso sexual, mas tambem nao eh aquele lugar exagerado onde a qualquer momento podem lhe enfiar uma shiv entre as costelas.

o tom, acontece pela fotografia, pela soundtrack e por meio de alguns temas e personagens. a forma como a historia eh contada se assemelha muito a uma serie de colegio, feito community, feito qualquer uma. tem a fila da comida nas refeicoes, tem a conversa de mesa, e em que mesa voce pode sentar, tem divisoes de classes, embora ao mesmo tempo nao tem, tem tomadas de corredor, e office conversations.

a dinamica entre os personagens eh a mesma quase com a dinamica em outros ambientes, e os personagens são todos meio aliviados por algum elemento comico. a musica faz boa parte disso. uma mulher morre de overdose e o policial que a encontra faz parecer suicidio por sufocamento, logo depois uma inmate gravida ta vomitando e tem uma conversa engraçadinha sobre ser burro e ter filho e etc. assim, eh bem crivel a coisa da cadeia, mas eh contada de uma forma leve, que quase contrasta com a propria historia.

eh como se voce tivesse visto a historia toda em outros contextos. talvez o elemento principal pra mim, é a parte das historias sobre falta de poder e contraste entre vidas e situacoes. essas historias sao, por exemplo, o contraste entre a vida de piper e a do seu fiancee. ou de piper ou qualquer inmate nesse caso, com um dos guardas. eh aquela coisa normal de filme que faz vc ficar puto ate alguem se resolver, normalmente no começo do terceiro ato.

muitos dos atritos, como o de piper e seu namorado me parecem poder ser resolvidos bem mais facilmente, com uma conversa mais razoavel entre eles, mesmo no pouco tempo de telefone e visitacoes, ou so estao la pra irritar mermo.

outra coisa que incomoda eh que a personagem principal parece clueless, e talvez isso so seja assim poruqe a serie nos deixa entrar na cabeca dela muito pouco. oitnb eh a adaptacao de um livro, de uma mulher que realmente foi pra cadeia. acredito que a serie nao eh muito representativa da sua experiencia, teria que ler pra ver a diferenca mas estou imaginando que o tom do livro pode ser diferente.

seria muito bom mostrar ela escrevendo, mas essa parte eh completamente negligenciada - ate o episodio 10 pelomenos - e atrapalha o realismo pra mim, que uma serie nova, ainda precise se ater a estrutura velha de contar historias. rolaria muito facil incluir momentos que ela escreve, a coisa do blog que foi criado, also, eu nem sabia ainda que essa serie era baseada em fatos reais, e em um livro, mas no momento que o fiancee pensou em escrever sobre a coisa de ter uma mulher prisioneira, e, antes disso ate, se voce parar pra pensar, no momento em que ela sabe que vai pra prisao, e o futuro marido eh escritor, a + b, ta feito, nao tem misterio. mesmo que nao existisse blogs e internet, ela poderia escrever o que ela quisesse e entregar para o marido nas visitacoes.

alem disso, pessoas inteligentes e estudadas - e estudadas sobre escrever - que sao os personagens de piper e larry, deviam saber lidar um pouco mais abertamente e melhor, sobre como escrever e abordar o assunto de forma publica, ao inves disso, ate o decimo episodio a forma como larry escreve sobre o assunto e o torna publico no radio parece bem idiota, pouco pensada. novamente espero que o livro seja melhor e mostre que ela pensou mais e eles trabalharam juntos pensando sobre a forma de escreverem e se publicarem.



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a historia dela, a real, parece muito mais interessante, e por algum motivo eu sinto uma fraqueza na historia da serie antes mesmo de saber da historia real. no caso, larry real tem mais carne, tem mais complexidade, trabalhava na epoca numa revista, agora tem sua propria. larry da serie é o velho cliche de aspiring writer e faz um certo breakthrough com a historia da sua namorada. ele eh striped out da historia do seu equivalente na vida real para servir apenas como um antagonista a piper na primeira temporada.

sábado, 1 de outubro de 2016

uncharted 4: a thief's end - 2016 - spoilers

uncharted eh o jogo que faz voce esquecer da hora e virar a noite correndo contra o tempo para chegar ao fim, e ai voam 15 horas e voce nem percebe.

em epoca de netflix e series, todomundo pode acusar de facilmente se perder no tempo e matar uma temporada inteira numa noite (ainda mais nessa modinha de temporadas de 6 episodios, agora mata um arquivo x, 24 episodios de 1h, de uma lapada so que eu quero ver), e por mais que a gente sinta isso, o que distingue todos os uncharted, e especialmente o 4, do binge de series, filmes ou ate outros jogos eh que nao existe praticamente coisa alguma pra quebrar o ritmo da historia que esta sendo contada, assim, toda a experiencia eh como um filme muito fluido. enquanto normalmente, por mais que voce esteja empolgado, uma serie te faz ver a hora entre episodios e um jogo comumente te da uma sensação de conclusao quando voce termina uma area ou mata um boss.

ultimamente, toda historia eh contada com seus picos e vales, e embora hoje muito do que vemos termine sempre num cliffhanger e nos deixe querendo mais entre unidades, existe uma estrutura padrao de contar historias que te da o sentido de conclusao de uma parte, capitulo, livro, ep, uma sensaçao de fechamento de arco. momentos assim te fazem parar e sentir o cansaço, ou ver a hora e decidir continuar ou nao. uncharted nao te da essa oportunidade, e isso eh um merito da alta qualidade do historytelling da naughty dog, aprimorado a cada novo installment desse jogo, quer você considere bom ou nao.


em a thief's end o historytelling so melhorou, os graficos, os cenarios e direçao e todos os demais elementos trabalham juntos para fazer voce sentir e entrar na historia com os dois pe, e por mais que a historia em si seja uma que eu acho que podia ser melhor, a capacidade de contar essa historia eh absurda.

sabemos do valor do espaço em branco, no audio, na diagramaçao, no video, ha um espaço em branco (ou preto) responsavel por dar a sensaçao de fim e prenunciar o proximo capitulo. em uncharted se esse momento existe eh tao breve que nao se sai por percebido. o capitulo eh anunciado no topo da tela com seu numero e nome e as vezes chega a surpreender por voce nao esperar ja ter chegado em outra fase do jogo, muito embora seja bastante perceptivel pela mudança de temas ou direçao dos personagens.


historia

com um historytelling tao envolvente eh uma pena que a historia em si deixe a desejar. o tatulo: a thief's end parece remeter a historia de henry avery, dono de mais esse tesouro que nate ansia em procurar, mas para mim eh uma alusao a ultima aventura de nathan drake e sua real final aposentadoria da carreira de ladrao/explorador/aventureiro/genocida. essa promessa de fim ja foi feita no uncharted 3, assim, o 4 começa mostrando um nathan estabelecido, com casa e emprego, casado com elena, e a melhor parte das cenas introdutorias/tutorial do jogo eh essa. o começo mesmo do jogo eh numa fase com nathan criança pulando por telhados com o irmao mais velho sam, e para mim eh mais como uma peça obrigatoria, meio sem sal, para, alem de introduzir as mecanicas de jogo, introduzir o tema do relacionamento entre nathan e o irmao, que sera desenvolvido e aludido a ao longo do jogo.

eh uma entrada sem sal para um prato principal melhor, e uma entrada que meio que arruina um pouco o ultimo jantar. pra mim eh um grande defeito de sequels e um erro comum, para criar uma grande historia, os autores arranjam momentos da vida do personagem ainda nao explorados para dar uma nova luz. mas se o nathan de sempre soubesse usar o grappling hook desde criança, porque nao o utilizou nos jogos anteriores? esse elemento da mecanica que se torna um elemento de bonding dos personagens poderia ser introduzido mais tarde na timeline da vida de drake para ser menos conflitante com o resto de sua história acrobatica, ou podia ser um simples hey, here's a grappling hook, use it.

o relacionamento de nathan com elena eh o grande elemento de amargor na historia. da pra perceber que eh proposital, e bem conduzido e executado no historytelling, o que eh clamoroso e sensacional, mas nao deixa de ser um elemento fraco, um golpe baixo. explicando: apos as fases com sam somos levados ao present day nate, introduzidos a sua vida atual vemos um escritorio saudoso de aventuras, porem relegado ao sotao, e um nathan feliz no casamento mas incerto sobre a satisfaçao com a vida atual.

ai o irmao aparece, surpresa, não morri, afinal, me introduziram nesse jogo, nao era pra morrer de verdade no tutorial ne msm, e eita, por acaso estou sendo extorquido a procurar um tesouro por um druglord, vamos nessa? 

tudo bem, a gente sabia que o irmão ia voltar, pra mim a merda eh porque eh aquela forçadinha pra nos fazer sentir por um personagem mas ele eh introduzido e  morto com tanta pressa que nem da pra sentir muito, um trope bem gasto no entrenimento de hoje. mas a grande cagada mesmo eh que nathan decide simplesmente mentir pra a mulher sobre a viagem em busca do tesouro, muito embora ele tenha a melhor historia pra contar do mundo. alo, amor? tudo bom? olha, tenho uma noticia boa, surpreendente, mas depois tem uma parte que talvez você não vai gostar: sabe meu irmao? pois eh ele nao morreu, ai sabe aquela cadeia daquela historia que contei? pois eh ele tava preso la mas ai fugiu com um cara que agora ta extorquindo ele entao vamos caçar um tesouro pra nao matarem meu bro, valeu? xau te amo bjmeliga!

pra mim um ponto fraco pesado na historia, mas mesmo assim, eh tão bem contado que eu so posso acreditar que foi muito bem escrito e engenhado para ser assim. isso porque nathan esta bem enquadrado como a pessoa que esta fazendo errado, quanto a isso, podemos considerar que sam eh seu id e sullivan seu superego. e o superego, alem de chegar tarde na brincadeira eh completamente ignorado. isso eh muito claro na hora que elena chega no hotel onde nathan e cia estão e arma o barraco com essa mentira safada dele. ele eh confrontado com uma realidade diferente da que estava tendo, de sair por ai resolvendo misterios matando gente e pulando de pedra em pedra, pra a realidade da vida estabelecida e de acordos e promessas em casal. seu id eh confrontado, o personagem do seu irmao no canto da cena enquanto sully tenta tomar a frente mas nathan prontamente manda ele pastar para poder seguir em frente com a caça ao tesouro.

as cenas seguintes mudam de tom, apesar de continuar seguindo seu id, a coisa tem menos graça, o irmao continua tentando anima-lo mas a coisa toda fica com um gosto amargo e meio sem graça, como querer continuar brincando depois de levar um rela da mae. eh meio birra querer continuar sem ouvir a razao ou tentar endireitar os erros, ai você brinca so mais um pouquinho pra mostrar que ta contrariando e vai dormir muxoxo.

esse e outros momentos desse jogo com gosto amargo, momentos onde você gostaria de nao jogar, ou de fazer diferente mas se sente forçado a continuar pela sua vontade, analoga a do personagem, de descobrir o tesouro e saciar essa curiosidade, sao momentos unicos em jogos que so posso citar de memoria em neste jogo e em spec ops: the line.

apesar desses pontos fracos da historia, o fato que voce sente quase na pele a merda que o personagem fez e como explorar perde um pouco a graça mostra que foi muito bem executado, e falando em sentir:

a historia pode ser claramente dividida em duas, como nos outros uncharted, e ate no ultimo tomb raider. a historia de drake e amigos, e a historia de henry avery e os piratas. a segunda eh muito boa, e contada de um ponto de vista de descobertas que revelam partes da historia, que vao se juntando para formar uma imagem maior, eh a historia de como henry avery  escondeu o biggest tresure yet, criando uma cidade pirata e tudo. a primeira historia eh a do proprio drake. essa eh vazia, talvez tao vazia quanto a sua presença fisica prostrado na frente de uma tela apertando um plastico preto com os indicadores e polegares por horas. menos. a historia de drake eh uma de ser traido, ser surpreendido, mentir, ser o mais esperto mas estar sendo atropelado pelos seus perseguidores. a historia de drake nao eh emocionante, pode ser se voce considerar todas as acrobacias e tiroteios, mas para mim ele eh mais um espectador como o jogador. ele esta atras de uma tela, pra ele a tela do tempo, assistindo a historia de henry avery assim como nos.

talvez virou um standard do genero hoje em dia, e se eu estou certo, eh merito da naughty dog ter criado esse padrao com todos os uncharted, revivendo o verdadeiro feeling dos filmes de indiana jones.


esse eh pra mim o mais forte desse jogo. olhando para tras talvez nao perceberiamos nada demais em uncharted 3 hoje, mas a naughty dog esta sempre a frente em narraçao, graficos e expressoes. esse eh um jogo como poucos onde voce pode dizer que riu involuntariamente. ri das piadas de nathan com elena no começo, ri quando ele faz cocegas nela, ri quando ele joga crash bandicoot fazendo pouco caso do jogo enquanto ela esta na ponta do sofa com os olhos brilhando. os dialogos durante todo o jogo sao emocionantes, bem atuados e profundos na historia dos personagens.

eh o unico jogo que posso dizer que senti cheiros. os cenarios sao tao bem desenvolvidos que atualmente eh impossivel estar mais imerso em uma experiencia como nesse jogo. senti o cheiro das algas que ficam presas nas pedras da praia quando a mare esta baixa, senti o cheiro de vegetaçao com barro e terra molhada enquanto eles atravessavam madagascar, senti o gosto da primeira cerveja gelada num dia quente com o vento e respingos de água salgada do movimento do barco batendo no rosto. senti o cheiro de ferro das pedras vulcanicas expostas ao mar levemente erodidas e corroidas por anos de oxidaçao. podia seguir talvez ad infinitum.

infelizmente, com tanto realismo se paga um preço. um problema que senti tambem em gtav. o mundo eh tao real, tao vasto, que a coisa de colecionar e explorar praticamente perdem o sentido. em gtav me lembro que quando zerei o jogo, apos a ultima cutscene a camera voltou ao personagem e eu dei uns passos para o lado, pegando um item de coleçao sem querer, a tela me mostrou embaixo: 1 de 1000. eu passei o jogo inteiro sem ver sequer 1 desses itens, tanto que eu achava que gta tinha amadurecido e parado com a coisa de colecionaveis. gta eh um sandbox open world, eh enorme e cada vez maior, com realismo as coisas ficam menores, os personagens correm menos e pulam menos alto, o que aumenta ainda mais as distancias a serem percorridas.

uncharted 4 nao é um open world, pelo contrario, eh uma história fixa, on rails, mas nunca os rails estiveram tao grandes. os cenarios sao tao grandes que você pode jogar, andando de jipe em madagascar, realmente acreditando que ha ali uma madagascar inteira pra explorar, todos os cenarios exceto as sequencias de puzzle de escalada tem essa sensaçao de vastidao, que se você simplesmente for para onde voce tem que ir o mundo realmente parece infinito, parece que voce podia ir para qualquer lugar se voce realmente desejasse ignorar o seu destino, o objetivo da missao.

e eu nao tou dizendo que pagar esse preço eh ruim. o ruim vai depender do tipo de jogador, se voce for um completionist ou um explorador eh facil perder horas fazendo nada no jogo. eu devo ter passado metade do tempo de jogo na parte do roubo da cruz explorando os telhados e pulando em janelas e beiradas procurando outros caminhos e tesouros secretos, na verdade foi nessa missao que peguei meu primeiro tesouro no jogo e percebi que devo ter passado batido por uns 10 tesouros em fases anteriores. em madagascar eu devo ter passado mais tempo passeando e procurando os limites da fase e dando rabiada, jogando o carro em barrancos e pulos por puro prazer do que indo em direçao ao objetivo. enquanto pra mim dirigir o jipe em madagascar foi muito divertido, ficar pulando em todo tipo de telhado e beirada atras de tesouro nao eh.

jogos hoje em dia sempre tentam lhe dar uma sensaçao de urgencia, que eh otimo para a narrativa e historytelling e emoçao do jogo, mas ao mesmo tempo coloca esses tesouros e colecionaveis minusculos espalhados pelo jogo, e como esse realismo tanto que nathan nem um botao de sprint tem, se torna um jogo a parte simplesmente procurar todas as porcarias escondidas.

eh o preço desse realismo e vastidao, e talvez um resultado e construçao de uma nova forma de jogar, primeiro jogar curtindo o jogo e depois fazer uma segunda playthrough ou no caso de sandboxes continuar explorando e vivendo aquele mundo em busca dos colecionaveis.

pra mim eh melhor simplesmente ignorar os colecionaveis, com uma historia tao boa e principalmente tao bem contada, esquecer que eh um jogo e viver um pouco desses momentos e emoçoes.


mecanica

essa nova aventura de nathan drake demorou pra sair. muito mudou entre uncharted 3 e uncharted 4. nesse meio tempo tivemos last of us e tomb raider. uncharted 3 ainda é melhor que esses dois, embora a historia de last of us seja a mais emocionante, e tomb raider seja mais novo, tem uma coisa estabelecida nesse genero puzzle/plataformer/shooter entre u3 e u4 que eh dificil explicar na totalidade, mos podemos ver alguns pontos.

primeiro, mecanicas mais duras, mais scriptadas, e menos espaço para criatividade do jogador. u4 herdou de lou a coisa das beiradas so um pouco altas demais para pular sozinho, as escadas quebradas exatamente onde voce nao pode alcançar e etc, que te forçam a usar o companheiro a.i. pra subir, exceto que como so tem esse caminho mesmo no jogo, seu companheiro não eh nada mais do que uma escada interativa. o jogo sente que ta repetitivo ai certas fases tentam dar uma mudada na dinamica mas eh basicamente sempre a mesma coisa que chega a enjoar, junto a isso tem a porra das beiradas que voce tem que alcançar movendo uma caixa. uma fase que a caixa esta longe pra caralho inclusive, mas o jogo eh tao real que voce quer simplesmente empilhar uns caixotes ou uns toneis pra subir e pronto.

segundo, mecanica inspirada em tombraider i.e.: a buceta da cordinha que você tem que sacudir pra todo lado se quiser ir pra frente, cordinha que nathan nunca tinha usado ate agora e tava just fine. conrdinha inclusive que quebra a suspension of disbelief, eu sei que as escaladas sao impossiveis por si so mas voce pode dar uma pausa no disbelief pra acreditar que ele eh capaz, mas a corda em tomb raider e em uncharted ficou ainda aquela coisa mal acabada, ela volta sozinha, desprende sozinha, muda de tamanho e se amarra organizadamente na calça do cara.

falar de mecanica ainda eh falar de historia, de certa forma. assim como graficos, esses elementos estao trabalhando para contar a historia. buscar uma apresentaçao cinematica e photorealista tem seu preço. muito do jogo nao passa mais a sensaçao de desafio real. as plataformas e escaladas sao simples, ate cansam, a mecanica de briga eh crua pra um jogo de hoje em dia, mash x pra dar porrada e triangulo as vezes pra se livrar de um grapple. eh tao inferior a por exemplo batman arkham asylum e dark souls que sabemos que é de proposito. isso nao eh desculpa no entanto, se o jogador vai ser forçado a lutar, que pelomenos o sistema seja decente e lhe de algo de desafio e curva de aprendizado.

os tiroteios sao aquilo de todo cover based shooter, o problema ai pra mim nao eh a mecanica, mas o realismo, fica meio ridiculo um jogo tao real, um explorador-arqueologo-dive-specialist tambem ter que ser um atirador profissional, matar em torno de mil caras pra poder chegar no final. eh ridiculo tambem que o seu inimigo tenha mil thugs para dispor e colocar no seu caminho pra voce estourar com bala.

seria o momento de voltar as origens, com o que foram os primeiros tomb raider e ate pitfall. nestes, o explorador estava contra os elementos. grafico nao eh limite para criar um cenario que conte sua historia, embora os cenarios de u4 respirem e vivam e contem suas historias, os cenarios de pitfall e tomb raider original tambem. neles o explorador estava contra os elementos. armadilhas, animais e como chegar de a a b. hoje pode parecer ridiculo e ate errado, a forma como lara croft e harry chegam chegando pra matar onça, tigre, urso polar, morcego, lobo, dinossauro e qualquer coisa que se mova, foda-se se eh ameaçado de extinçao ou nao, mas enfim, matar mil caras eh pior.

o jogo que conta menos pela narrativa da espaço pra historia ser contada pela mecanica e pelo cenario, consequentemente as mecanicas ficam mais refinadas, e a coisa final fica mais prazerosa de jogar.


por fim

uncharted 4 renova a coisa do jogo explorer/adventure/shooter/puzzle/plataformer de novo, eh o jogo mais bonito que eu joguei, com a historia mais bem contada, eh o jogo mais envolvente ate agora.

mas dessa vez ele ficou pra trás na parte das mecânicas, herdando defeitos dos seus antecessores que não henriquecem a história ou o jogo, mas estão ali apenas com uma sensação de seguir a industria (embora last of us é deles mesmo e eles mesmo, a naughty dog, que estão formando a industria nesse tipo de jogo) esperamos que esses elementos de mecânica sejam resolvidos ao passo que os desenvolvedores forem amadurecendo essas ideias.

em avaliação final, acredito que uncharted deve ser visto mais como um filme ou uma mini-serie do que como um jogo, eh um filme que coloca um pouco do controle na sua mao, nao o contrario, e so tem demerito nisso da parte de ser confundido com o oposto.

tendo dito isso, da parte de narrativa o jogo poderia ser menos formulaico, da parte jogo, as mecanicas poderiam ser mais envolventes. e mesmo metendo o pau, a gente mete o pau pq a coisa eh muito boa. indiana jones e lara croft estão ultrapassados por muito e um competidor precisará de muito para superar nathan drake.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

mesa fúnebre

o garfo treme descontroladamente. é o que eu ia escrever, mas percebi então, que quando se trata de situações limítrofes, as hipérboles devem ser usadas com cuidado, pois a coisa está muito perto de deixar de ser um exagero.

a velha corcunda se esforça para exercer controle sobre os utensílios. o garfo treme, não descontroladamente, mas tá muito perto. laboriosa atividade de comer duzentas gramas de comida espalhada pelo prato.

a comida foi espalhada no prato por uma idosa que, se não na cabeça, nas mão ainda tem firmeza. o queijo frito estava mole, a macaxeira estava dura, deve ter dado trabalho para a corcunda mas curiosamente dessa vez ela não reclamou. não a percebi reclamar. essa idosa amassou e espalhou a comida e depois foi embora.

com o garfo de lado ela separa uma parte da massa no seu prato, ao girar o garfo ele treme mais ainda. imagino que o maior esforço seja, na tremedeira, evitar que ele encoste no prato e faça o tilintar de porcelana com metal durante toda a torturante sessão alimentar. o movimento de pegar a comida já separada com o garfo e faze-la encontrar o sistema digestivo acontece quase todo com o antebraço e a boca, o punho gasto está todo concentrado em segurar o utensílio e se mantem rijo.

devemos parar um momento para apreciar a resistência desse organismo. a boca transforma a massa em pasta, essa parece ser a parte mais fácil, o que não quer dizer que é sem trabalho, a coisa de mastigar e engolir uma garfada rasa de alimento para essa senhora. lábios, mandíbula, dentes, língua, esófago, está tudo funcionando. ela ainda é capaz de processar o que engole e fazer retornar pelas suas veias e nutrir seus tecidos. um dia essa nutrição não vai ser suficiente e os braços não mais conseguirão levar alimento a sua boca. sem isso o organismo não vai servir mais a si mesmo.

enquanto a boca funciona e mostra fome, a coluna parece não ter mais pra onde desmoronar, cada vertebra derrubada em cima da outra de forma que a coluna parece ter caido em si mesmo.

metáforas aqui, de uma coluna que aponta para o chao como se quisesse voltar a terra, ou de uma coluna que aponta para o lugar do descanso final que é embaixo do chão, são alegorias que remetem a anedota bíblica da criação do homem a partir do barro, e ao simbolismo do enterro. enquanto toda essa simbologia seja forte nós devemos evita-las, pois, a anedota já está demais ultrapassada e o fato é que do hábito de colocar pessoas debaixo da terra quando elas morrem sobrou apenas a simbologia mesmo, o destino dessa velha quando morrer vai ser uma gaveta no santo amaro, uma visita solene com poucos familiares, e alguns anos depois outra visita mais deserta e mais desagradavel pra ver se a carne já soltou dos ossos. se a coluna dela fosse apontar para o lugar do descanso final, iria apontar pra cima, terceira ou quarta fileira de gavetas de um daqueles corredores.

o que essas metáforas querem dizer de um jeito bonito e profundo é que isso é uma coluna torta pra caralho, e o fato é esse mesmo.

ossos porosos, no hábito diário de apoiar-se na mesa a ulna de cada braço deve ter cedido onde encosta gerando uma depressão. apoiado ali os antebraços içam pelos ombros o resto de coluna colocando a boca alguns centímetros mais perto da mesa.

o garfo repousa no prato, a mão vai até a xicará de café, levada pelo antebraço que gira como um guindaste em volta do ponto afundado da ulna que encosta na mesa. elevada do pires, a xicara é o que treme mais. a superfície do líquido se mantem paralela a mesa, como se impassível a tremedeira, enquanto as bordas da xícara se aproximam e se afastam dele, num movimento perigoso para a toalha de mesa e a macaxeira amassada que passam por debaixo dela no caminho a boca. mover o pescoço é esforço demais, a cabeça não gira para ver a xicara, apenas os olhos seguem o caminho que a mão procura fazer enquanto a boca se prepara pra receber o líquido. mais tarde a xícara vazia, o ultimo gole do café vem leve para a mão cansada e desce com a sensação de dever cumprido. dever de saciar um corpo que ainda pede alimento.

um esforço que parece valer pouco, quando você olha para o prato e ve metade da comida espalhada em tentativas fracassadas de serem espetadas ou elevadas pelo garfo, se esfarelaram em pedaços pequenos que não não foram reunidos para mais algumas garfadas. esses braços vão deixar de funcionar antes do resto do corpo, levando com eles os resquícios de autonomia e prazer de saciar sua fome você mesmo, mesmo admitindo que outra pessoa pos a comida no seu prato.


a velha se mantém à mesa. não vejo expressões em seu rosto, um olhar vazio, neutro, de músculos cansados tentando o máximo ficar em repouso. quando algo passa pela cabeça dela as sobrancelhas começam a falar antes da boca, enquanto os olhos encontram o seu interlocutor ou o objeto do seu interesse. até os olhos parecem se mover de vagar e com esforço. com esse olhar em branco ela percorre suas companheiras de jantar. com ela, 4 mulheres, a velha corcunda, a avó, a mãe, a criança.

vamos exagerar um pouco a realidade para dizer que as mulheres sentam a mesa numa posição que parece as colocar em pontos de uma espiral em proporção aurea, a partir desta, a mais velha, percorrendo as seguintes por idade decrescente, abismo da derrota humana. todas as mulheres olham para a mais jovem, uma criança, a criança olha para todas mas seu único foco é a si mesma, o centro da atenção. se essas mulheres olhassem para o lado esquerdo veriam seu passado, se olhassem para sua direita veriam seu futuro, a corcunda veria o nada, o futuro de todas.

a criança faz uma serie de perguntas a sua vó, que ainda é jovem. a beira da comunicação adulta, o entendimento de mundo da criança é feito de retalhos do que ela percebe do mundo, sua percepção arranca significado do parelhamento de qualquer informação A com informação B enquanto a linguagem rudimentar não alcança a infinidade de detalhes e significados misturados que um adulto ousa fingir dominar. esse cerebro jovem no formar significado acaba revelando realidades que nossos cerebros não veem mais quem é sua mãe? minha mae é acirema. quem é sua filha? meu filho é ednaldo. nãaao, sua outra filha, a filha pequena. eu não tenho filho pequeno. e ela? ela é minha tia. não, ela é sua filha.

a criança rasgou o tecido de toda a construção social das três senhoras a mesa com ela e viu a velha como um semelhante, uma filha, alguem que recebe cuidados, e fez isso com a menor quantidade de significados possível. se atendo a observações que só seu cerebro captou e que as palavras que essas mulheres dizem nunca proferiram diretamente.

com sua agulha e fio para atar um nó unindo criança e velho ela rasgou a cabeça de duas senhoras, a corcunda e a avó. essa agulha errou a cabeça da sua mãe também à mesa, por ser muito nova e não ter sentido na pele ainda a debilitação agravante da idade. com esse rasgo se fez silêncio. ninguém se expressou mais. eu não imagino a velha pensando muitas coisas, mas imagino que esse rasgo causou uma dor, e no silencio e na dor da derrota dessa situação para que ninguém se planeja, de se ver como inválido, a velha carregou sua tremedeira ao longo da sala de jantar com o seu andador colorido até a cadeira conformada pelo seu corpo onde despeja seus ossos e relaxa a maior quantidade de músculos possível, como de costume. ligou a tv com o menor movimento do indicador para receber a morte adiantada do seu cérebro por meio da programação do momento e poder esquecer a dor revelada pelas palavras pontudas da criança.

mas dessa verdade ninguem se esconde constantemente, e a avó, efetivamente e entitulada como mãe da velha, carregando esse fardo é que não tem como esquecer. ela aproveita um pouco do silêncio enquanto sua tia-filha não morre e não chega sua vez.
















quarta-feira, 24 de agosto de 2016

fast times at ridgemont high - 1982 - underage sex / aborto

coming of age. o filme mostra seu cast se relacionando entre aulas e trabalhos simples em restaurantes, lojas e um teatro durante seu ultimo antes da graduação.

filmes como esse sempre me impressionam pela leveza com que carregam certos assuntos junto com sua história principal. nesse caso talvez nem tendo uma história principal. fast times in ridgemont high é baseado num livro de não ficção escrito por cameron crowe que passou 1 ano disfarçado em clairmont highs chool em san diego coletando histórias para seu livro. isso é um livro que deve valer a pena ler.

stacy é atendente no mesmo fast food onde brad, seu irmão, é cozinheiro. stacy só quer saber de meter, tem 15 anos, mas diz ter 19 pra sair com um cara de 26. a coisa dos jovens terem o costume de pararem em locais públicos para transar está nesse filme, e o lugar que ela transa com esse cara é bem merda. o fato dela ser de menor não é um problema no filme.

stacy é uma fudida, todos os caras que ela se mete nao querem saber dela depois. ela sai com rat, um cara mais do estilo geek inseguro que adiquire confiança pelo discurso do seu amigo mike. ela leva ele direto pra casa depois de jantar, doida pra meter, mas ele amarela e dá o lavra com uma história merda. ai ela fica afim do amigo de rat e é bem direta com ele. mike nao nega fogo e come ela, goza rapido e dá o lavra cariado. depois de sair com rat e com mike nenhum dos dois quis dar conversa a ela, mike aparentemente pq é otario, cariado, e rat pq é mamão.

mike engravidou stacy e ela vai lá abortar. isso é tudo muito normal na história, assim como ela transar com um adulto, o grande problema é o idiota do mike nao levar ela na clínica de aborto nem pagar a metade dele do custo. o irmão dela percebe a merda e ajuda ela e fica de boa, abortar não é problema nenhum, inclusive eles decidem guardar segredo dos pais.

no final ela decide que o négocio não é meter, mas ter um romancinho, ai combina com rat que é mamão e tava querendo um romancinho também.


o filme termina um pouco depois da dança de graduação.
mike se desculpa a rat por ter comido a nega q ele tava afim. os updates de história de cada um no fim do filme mostram que mike foi pego por fazer revenda de ingressos pra shows. nunca vi ninguem ser preso por causa disso aqui.

cast incrível, com judge reinhold, nicholas cage, sean penn e forest whitaker.

judge reinhold parece nao ter feito mais nada massa alem dos seus filmes dos anos 80, o que é uma pena, ele tem uma voz imponente e é engraçado.

sean penn tá irreconhecivel para hoje, já mostra essa doidera dele na dedicação ao personagem.

para cage é um papel pequeno e para forest é seu primeiro papel.

não é um filme sobre diferenças sociais, então não tem uma enfase forte naquela coisa dos geeks vs cliques, nem dos ricos vs pobres. o que é bom porque vemos uma seleção de carros e personagens mais realistas, por mais que ainda sejam caricaturas de certa forma.

linda e stacy aparecem nuas, a nudez não parece forçada, está dentro dos contextos das cenas, com uma certa crueza que está presente no restante da produção e nas relações sutis entre os personagens, talvez por se basear em um livro de não ficção. podemos dizer que esse filme é o ponto neutro para medir os outros filmes de coming of age da mesma época.

the dead zone - 1983 - o futuro é mutável, but should we?

acostumado com, talvez, a preponderancia de filmes simplistas nos dias de hoje, baseando-me nas dicas iniciais do filme em referencias a the raven e the legend of sleepy hollow, achei que poderia ser apenas sobre a relaçao deste homem com suas mulheres, e seu principal antagonista seria o serial killer que estuprou e matou varias mulheres em castle rock, cuja relação com mulheres é distinta e adequadamente oposta a relação do protagonista. acaba que este não foi o unico antagonista, mas um dos degraus no desenvolvimento de john no entendimento de sua situaçao e aceitaçao do seu novo poder.

o mais importante sobre essa questão é que este nao é um filme sobre um inimigo, hoje os filmes parecem ser sobre inimigos, (perdao por generalizar os filmes de hoje) este é um filme sobre uma situação, e nesse quesito, apesar de nao ter lido ainda, posso supor que faz parte do estilo de stephen king, talvez uma brasa que esteja mais acesa na literatura, menos, no cinema, a historia é sobre uma situaçao, majoritariamente na vida dessa pessoa, john, o protagonista, mas podendo escapar do mesmo, ou do que o mesmo vivencia. posso dizer que é assim tambem em 11.22.63 e em under the dome. sao historias que abordam um se, um what if. ate a extinçao, ou soluçao das perguntas e curiosidades sobre a questao, ate a satisfaçao do escritor e do leitor.


sequencia de abertura
é de wayne fitzgerald, as imagens nao parecem remeter a itens diretamente relacionados ao filme, mas é misteriosa e da espaço pra a musica de michael kamen crescer, enquanto o titulo do filme vai sendo revelado.

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então, the dead zone é sobre um professor de inglês, john, que se encontra acordando de um coma de 5 anos apos um acidente de carro. ele logo descobre que adquiriu um poder, second sight, ve o passado, o presente ou o futuro de quem ele toca, ganha uma oportunidade de agir com esse conhecimento, que vai alem do que pode ser visto normalmente. a origem do poder nao é importante. o personagem cresce a entender o que pode fazer com esse poder depois de superar as perdas causadas pelo acidente e consequente coma.

o filme começa com john recitando o final de the raven e recomenda que seus alunos leiam the legend of sleepy hollow que ele resume ser sobre um professor de inglês que é perseguido por um demônio sem cabeça. se os alunos entendem the raven de edgar allan poe de primeira eu nao sei, mas a cena prenuncia seu destino e coloca ambas obras como referencias que alguns temas giram em torno. em parte pode se ver uma relaçao tambem entre ichabod e john.


dor de cabeça
john tem dores de cabeça durante sua jornada, e parecem estar relacionadas ao seu poder, porem ele teve uma dor de cabeça semelhante antes de se acidentar, na montanha russa, essa passa batida no momento, ele e sarah, sua noiva, não se importam muito com isso. mais pra frente, a dor de cabeça é stopim para seu médico comentar que ele está piorando da sua condição, mas o motivo ou a relação com seu poder não é elucidada nem hipotetizada. imagino que a fonte do poder é algo na sua cabeça e talvez o acidente seja apenas um catalisador que acelerou ou permitiu o seu desenvolvimento.


já é de noite quando john deixa sarah em casa. ela oferece para que ele fique a noite lá, ele diz que pode esperar por isso, e mesmo com chuva dirige, um fusca, eu já dirigi um e sei que aquele limpador não presta pra nada mesmo, nem adianta passar a mão no parabrisa. era um fusquinha lindo, o icônico putaquepariu, o teto revestido com um forro creme com bolinhas e descosturando na beira, clássico. só assim, de noite, chovendo e com aquela luz ruim do farol que dá pra ele não ver um caminhão tanque dobrado na estrada. pra quase chumbar ele de frente, sorte de john que o tanque parecia ser de leite, e não era um filme de michael bay, pois se fosse ia é explodir na certa.


relação com mulheres e deus
john acorda do coma e conversa com weizak, seu medico, que nao conta a ele que esteve 5 anos em coma ainda, assim, john se impressiona de ter saido de um acidente grave e estar sem bandagens nem arranhoes. ele pensa que é sobre essa sorte/milagre que sua mae esta falando quando entra no seu quarto ate entender que sua sorte é a de acordar apos o coma. a sorte é da mãe de ter seu filho de volta, e ela mostra ressentimento em sua noiva ter desistido dele, e casado com outro. moved on.

john perde os alicerces originais da sua vida, sua saúde, sua mulher, seu trabalho. ele retrocede a familia, o pai e a mãe. em seguida ele perde sua mãe, de forma que tambem parece ser coincidencia, durante uma entrevista que ele da aos jornais e ela esta assistindo.

sua relação com mulheres é que se devotou a uma, depois que a perdeu, voltou a mae e a perdeu tambem. os dois primeiros casos que ele ve com seu poder o permitem salvar a filha de uma enfermeira, de sua casa que pega fogo no presente, e reunir o seu medico a mae dele, supostamente morta em algum contexto de guerra.

the raven é sobre um narrador que lamenta a morte de sua amada, lenore. até aqui, todas as mulheres são lenores, john faz seu papel em ajudar outras pessoas a reencontrarem as suas, ou impedir que as percam enquanto ele perde as dele.

como carly rae jempsen diz you took your time with the call, I took no time with the fall, os sentimentos sempre chegam a flor da pele em momentos diferentes para o homem e a mulher, no primeiro reencontro de john com sarah, ele está em cima da situação, sob controle, ela sai aos prantos no carro. a situação se inverte em outro momento quando ela vai a sua casa com o filho. ela remete a noite que ele a deixou em casa, dizendo que já esperou demais. transa offscreen, ela fica, faz o jantar, o pai toca na ferida, faz tempo que não tem uma familia jantando nessa mesa, obviamente doendo no entreolhar do casal a brevidade e insustentabilidade da situaçao. dessa vez o espaço foi dominado por sarah, e quando ela sai com o carro é ele que esta sentindo enquanto ela parece resolvida, ele marejado. em conversa fica estabelecido que aquilo não se repetira.

no primeiro contato com o xerife john esta se vendo desgraçado por deus  quando deus entra em pauta  enquanto o xerife se refere ao poder como bençao. john ainda esta lamentando sua propria desgraça, so depois ele decide ajudar o xerife. seu antagonista nesse momento é um estuprador que mata suas vitimas, e abusa do confiança que elas tem nele para se aproximar e cometer o crime. é um dos policiais, e john descobre, tocando-a, que a mae do serial killer sabe dos crimes do filho e esta o protegendo. esse personagem tao oposto fecha o ciclo de lamentação para john e de certa forma o deixa em paz com as suas lenores.

curiosamente, esse vilao parece estar em todas as cenas em que seus crimes sao debatidos, parece ser mais um momento de foreshadowing no filme, coincidente ou nao.

acredito que o fim do seu episodio de lamentação se da logo antes do episodio de determinação, o segundo momento do filme, começar, quando, dando aula para um aluno particular, o mesmo esta recitando the raven, a obra aparece novamente enquanto o protagonista se encontra pensativo, refletindo internamente sobre seu proprio ciclo de lamentaçao.

o poder
as he was a bachelor, and in nobody's debt, nobody troubled about him anymore. trecho de the legend of sleepy hollow que ele usa para demonstrar a sarah em seu primeiro reencontro, seu desejo de ser deixado em paz pelas pessoas.

o poder so funciona com o toque a outra pessoa, mesmo morta, e ele descreve para o pai que é como se estivesse morrendo quando vê. o filme o mostra se tornando presente no que ele está vendo, seja no presente ou passsado. no futuro ele so assiste. alem de sentir o momento ele aprende mais coisas que nao se vê, como o nome de alguem, seu endereço, etc, coisas que o filme nao mostra. mas para descobrir quem é o assassino foi importante que ele visse o rosto, para isso foi importante seu posicionamento no local. provavelmente só uma questão de tempo de filme para revelar a identidade do cara, mas interessante para entender o poder.


é um segundo momento no filme, pos-lenores, onde john se reestabelece e volta a ensinar, porem em sua propria casa, uma nova casa em outra cidade. as linhas de the legend of sleepy hollow que ele recitou a sua ex-noiva continuam uma verdade pela qual ele conduz sua nova vida, apesar de continuar sendo procurado por pessoas interessadas pelo seu poder. ao contrario de ajudar essas pessoas ele acaba topando em uma situaçao que decide intervir.

é interessante que muitos personagens vem e vao, na história de john e como ele lida com seu poder.
um pai solicita que john de aulas a seu filho, que parece isolado para ele, isso permite que john conheça um dos candidatos politicos do momento, e receba a informaçao desse pai que o candidato nao é gente boa.

esse tandem do aluno e seu pai estabelece o segundo passo de evoluçao do personagem, ele esta resolvido com as mulheres, mas se isola e se sente isolado de progredir com uma vida normal enquanto evita o seu poder (destino de usar seu poder). por acaso ele toca o aluno e ve como sua morte. ele conta ao pai e perceber que pode alterar o futuro dessa criança lhe da nova direçao.

ao tocar a mao do candidato corrupto  so o espectador sabe disso com certeza ate o momento  ele vê um futuro presidente desastroso para o mundo.

futuro
ver o futuro nao implica na imutabilidade do mesmo. stephen king escreveu the dead zone em 1979, e parece haver elementos semelhantes a mesma questao levantada em 11.22.63. em ambas as historias inclusive, ha momentos semelhantes onde o personagem é mentorado por uma figura mais velha, em the dead zone o medico faz esse papel, em 11.22.63 é o amigo que o transfere seu poder de viajar no tempo ao protagonista que lhe serve como mentor. ciente do futuro negativo do candidato, e da sua capacidade de alterar o futuro que viu ele pergunta a seu mentor se o mesmo voltaria no tempo para matar hitler, se tivesse esse conhecimento e poder na hipotese. o medico diz que sim, e motivado pelo seu mentor, john arquiteta o assassinato desse candidato.

a tentativa da errado em matar mas é o suficiente para alterar o futuro. john tem a oportunidade de o tocar novamente e vê que em seu novo futuro ele se suicida devido ao fracasso.

em 11.22.63 o protagonista volta ao passado para tentar evitar o assassinato de john kennedy, na data que da nome a obra. todo seu esforço serve apenas para descobrir que se ele fizer isso o futuro do mundo sera desastroso, o que o força a voltar novamente e desfazer as alteraçoes iniciais, permitindo que kennedy seja morto.

ao concluir esse filme so pude pensar que o assassino de kennedy bem poderia ser um viajante tambem, enviado para evitar um futuro tragico da unica forma que ele soube. as duas obras acabam debatendo sobre a imprevisibilidade do futuro mesmo se o alterarmos, e se é certo faze-lo. exceto que em um temos o assassino sendo criado e no outro temos a busca em evitar o assassinato.

john escreve uma carta para sarah se despedindo e dizendo para confiar que o que ele estava fazendo é importante. determinado, apos se esconder tanto do seu poder. jake, em 11.22.63 esta em duvida sempre, e sua amada esta no passado, criando, na serie outras questoes e a possibilidade de poder viver com seu amor, que john nao teve.


dead zone 
significa em ingles, de forma abrangente, uma ausencia. normalmente, uma area do oceano com pouco oxigenio e portanto, ausencia de vida, ou uma area onde nao se recebe sinal de telefone ou radio, comunicaçoes, ausencia de comunicaçao.

nao pude perceber nas visoes, mas ele explica para seu medico que nas suas visoes ha uma dead zone, ai fica o significado do filme, essa dead zone, esse espaço em branco de alguma forma esta envolvido com a possibilidade de alterar o futuro.


john é um personagem perdido. de certa forma, expelido de uma vida normal, talvez o sonho americano, ele encontra seu proposito e vira uma pessoa determinada no final do filme, e nos momentos que seu talento lhe da uma nova funçao. enquanto foge do seu talento ele nao se encontra na vida, afogado no luto da sua perda.


sábado, 13 de agosto de 2016

risky business - 1983 - subplot: puta de luxo fugindo do cafetão

engolindo a lorota do amigo, joel se empolga pra fazer merda quando seus pais viajam durante o fds. come uma puta, destroy o carro do pai, vira cafetão por um dia e cobre todos os danos a tempo dos pais chegarem e nao perceberem nada.

assim como em dirty dancing, é refreshing ver um filme onde um assunto que poderia ser delicado é simplesmente aceito, e simplesmente faz parte da história, sem muito julgamento.

quando os pais de joel viajam a amigo dele liga pra uma "call girl", forçando ele a ter um encontro com essa nega. turns out que é um travecão marombado e joel tem que sair dessa de boa sem levar umas porradas. ele consegue, e o cara dá um numero de uma nega boa que ele acha que vai ser o que joel gosta. 

o filme começa com uns sonhos, e essas partes são muito boas, ele tem uns sonhos safados mas a safadeza é empatada pelas suas preocupações com seu futuro de faculdade moral e respeito etc. até quando ele vai bater uma  e começa a imaginar as safadezas que ele curte, que no caso é comer uma babysitter, ele é empatado pela policia que chega com os pais dele e o pai da babysitter pra dizer q ele não tem futuro.

a trilha sonora é bem synth e tá bem massa pra hoje em dia.

o filme é mais leve, mas não tem risada fora do lugar. joel dá uma procurada no jornal por outra puta mas acaba decidindo ligar pra o numero que jackie, o traveco, dá pra ele. o numero é de lana e a cena é massa porque parece com um dos sonhos dele, voce fica esperando que vá dar merda em algum momento mas ai a cena acaba e de manhã a nega tá lá ainda, então não só foi realidade como também a nega dormiu lá, massa, muitos pontos pra ele.

o que eu digo que o filme é light mas nao tem risada fora do lugar é que quando aparece o traveco joel se sente em apuros, querendo esquivar da roubada e enquadrar o amigo dele, o personagem não acha engraçado, é a parte do espectador, de sentir pela situação, ou rir ou empatizar com o personagem ou o que for, o filme não te obriga a rir. hoje eu imagino que os filmes forçam muito voce a rir, inserem piadas em todos momentos e quebram, induzem a audiencia. 

então, por sinal, lana é o tipo dos anos oitenta, uma magrinha massa de pouco peito, e cobra dele de manhã, 300 conto pelo serviço. uma pesquisa rápida diz que 300 conto em 1983 seriam 727 contos americanos hoje, isso vai pra 2181 traduzindo pra contos brasileiros, ou seja, não foi qualquer serviço. ele não tem dois mil reais no bolso da cueca, mas disse que podia pegar no banco de boa, e enfim, nessa historia ela some.

mas ele acha ela depois num hotel massa, lana se disfaz do cafetão dela e pede uma carona a ele, o cafetão chega batendo com a arma no vidro do carro e ele sai, tendo que depois despistar ele que decide perseguir de carro, enquanto lana fica saindo pela janela pra falar merda.

isso é massa também, você pensa que é um filme de high school e de repente tem cafetão batendo no vidro do carro e perseguição. o ponto light do filme é o cafetão não ter usado mais força, ou ter dado um tiro, ele é um vilão light, mas a cena da arma é mais forte, e novamente, o filme não ri pra você, então você está livre pra rir do absurdo ou entrar na mesma dos personagens.

o filme não vai tratar dos problemas de ser puta, lana está de boa com isso, com seu negócio, e suas amigas também e é massa ela estar fugindo do cafetão mas isso é só um subplot. por sinal, ela lembra audrey hepburn em breakfast at tiffany's só que loira. no final rola a velha festinha na casa dos pais, só que é com joel e lana sendo os pimps, lana tendo chamado todas suas amigas para trabalhar e joel chamando todos seus amigos para desenbolsar seus cofrinhos pra ele poder consertar o carro do pai que ele atolou no lago michigan fazendo merda. 

ele recupera o carro, sobra uma grana acho e ninguem é assassinado num beco escuro e jogado numa lixeira, nem ele nem lana, o que podemos considerar um caso de sucesso por si só. o filme também não amarra o casal para a felicidade eterna, embora eu não ia achar ruim, se eu fosse ele, de começar ali já meu negocio de cafetão com lana.