terça-feira, 26 de maio de 2015

observação de um cachorro que morre

essa semana argos deu um passo visível rumo a demência, a velhice. 

apesar de mais fraco do que já foi, está cada vez mais feral, mais resoluto em obter comida a todo custo, menos "obediente". é incrivel como — eu acredito que as expressoes faciais dos animais não expressam o mesmo que nós humanos expressamos, em grande parte, mas são meros artificios de sobrevivencia, carregados pelos animais de sucesso na procriação — é incrivel como é possível ver no rosto dele um pouco do que se passa na cabeça dele, e como ele está diferente ou muda, de uma hora pra outra.

tem o rosto que me reconhece, pescoço levantado, olhando no meu rosto, com olhos bem abertos, orelhas levemente levantadas e o nariz começando a farejar, buscando meu cheiro. tem o rosto do desconhecido ou desafetuoso, que vem com o pescoço rente ao corpo, olhando em frente e deixando passar batido a minha presença ou outras coisas que costuma interagir. as vezes os musculos da face estão mais neutros, dando aquela sensação de moleza, de falta de expressão, pele sobrando, outras ele tá ligado, rosto jovem, pele esticada, musculos trabalhando.

a casa as vezes é familiar pra ele, as vezes é desconhecida. chega a se levantar pra reexaminar o espaço, como se o lugar tivesse mudado completamente e de repente, e acho que é exatamente assim que o cerebro e sentidos dele estão funcionando, cada vez menos fidedignos a realidade.

o mais significativo, sua atitude sincera, descarregada de tudo que aprendeu esses anos, carregada de inocencia novamente. ao abrir a porta agora, o cão que se recusava a sair a não ser que estivesse de coleira, sai tranquilamente, rumo desconhecido, como se nunca tivesse feito de outra forma.

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