terça-feira, 30 de agosto de 2016

mesa fúnebre

o garfo treme descontroladamente. é o que eu ia escrever, mas percebi então, que quando se trata de situações limítrofes, as hipérboles devem ser usadas com cuidado, pois a coisa está muito perto de deixar de ser um exagero.

a velha corcunda se esforça para exercer controle sobre os utensílios. o garfo treme, não descontroladamente, mas tá muito perto. laboriosa atividade de comer duzentas gramas de comida espalhada pelo prato.

a comida foi espalhada no prato por uma idosa que, se não na cabeça, nas mão ainda tem firmeza. o queijo frito estava mole, a macaxeira estava dura, deve ter dado trabalho para a corcunda mas curiosamente dessa vez ela não reclamou. não a percebi reclamar. essa idosa amassou e espalhou a comida e depois foi embora.

com o garfo de lado ela separa uma parte da massa no seu prato, ao girar o garfo ele treme mais ainda. imagino que o maior esforço seja, na tremedeira, evitar que ele encoste no prato e faça o tilintar de porcelana com metal durante toda a torturante sessão alimentar. o movimento de pegar a comida já separada com o garfo e faze-la encontrar o sistema digestivo acontece quase todo com o antebraço e a boca, o punho gasto está todo concentrado em segurar o utensílio e se mantem rijo.

devemos parar um momento para apreciar a resistência desse organismo. a boca transforma a massa em pasta, essa parece ser a parte mais fácil, o que não quer dizer que é sem trabalho, a coisa de mastigar e engolir uma garfada rasa de alimento para essa senhora. lábios, mandíbula, dentes, língua, esófago, está tudo funcionando. ela ainda é capaz de processar o que engole e fazer retornar pelas suas veias e nutrir seus tecidos. um dia essa nutrição não vai ser suficiente e os braços não mais conseguirão levar alimento a sua boca. sem isso o organismo não vai servir mais a si mesmo.

enquanto a boca funciona e mostra fome, a coluna parece não ter mais pra onde desmoronar, cada vertebra derrubada em cima da outra de forma que a coluna parece ter caido em si mesmo.

metáforas aqui, de uma coluna que aponta para o chao como se quisesse voltar a terra, ou de uma coluna que aponta para o lugar do descanso final que é embaixo do chão, são alegorias que remetem a anedota bíblica da criação do homem a partir do barro, e ao simbolismo do enterro. enquanto toda essa simbologia seja forte nós devemos evita-las, pois, a anedota já está demais ultrapassada e o fato é que do hábito de colocar pessoas debaixo da terra quando elas morrem sobrou apenas a simbologia mesmo, o destino dessa velha quando morrer vai ser uma gaveta no santo amaro, uma visita solene com poucos familiares, e alguns anos depois outra visita mais deserta e mais desagradavel pra ver se a carne já soltou dos ossos. se a coluna dela fosse apontar para o lugar do descanso final, iria apontar pra cima, terceira ou quarta fileira de gavetas de um daqueles corredores.

o que essas metáforas querem dizer de um jeito bonito e profundo é que isso é uma coluna torta pra caralho, e o fato é esse mesmo.

ossos porosos, no hábito diário de apoiar-se na mesa a ulna de cada braço deve ter cedido onde encosta gerando uma depressão. apoiado ali os antebraços içam pelos ombros o resto de coluna colocando a boca alguns centímetros mais perto da mesa.

o garfo repousa no prato, a mão vai até a xicará de café, levada pelo antebraço que gira como um guindaste em volta do ponto afundado da ulna que encosta na mesa. elevada do pires, a xicara é o que treme mais. a superfície do líquido se mantem paralela a mesa, como se impassível a tremedeira, enquanto as bordas da xícara se aproximam e se afastam dele, num movimento perigoso para a toalha de mesa e a macaxeira amassada que passam por debaixo dela no caminho a boca. mover o pescoço é esforço demais, a cabeça não gira para ver a xicara, apenas os olhos seguem o caminho que a mão procura fazer enquanto a boca se prepara pra receber o líquido. mais tarde a xícara vazia, o ultimo gole do café vem leve para a mão cansada e desce com a sensação de dever cumprido. dever de saciar um corpo que ainda pede alimento.

um esforço que parece valer pouco, quando você olha para o prato e ve metade da comida espalhada em tentativas fracassadas de serem espetadas ou elevadas pelo garfo, se esfarelaram em pedaços pequenos que não não foram reunidos para mais algumas garfadas. esses braços vão deixar de funcionar antes do resto do corpo, levando com eles os resquícios de autonomia e prazer de saciar sua fome você mesmo, mesmo admitindo que outra pessoa pos a comida no seu prato.


a velha se mantém à mesa. não vejo expressões em seu rosto, um olhar vazio, neutro, de músculos cansados tentando o máximo ficar em repouso. quando algo passa pela cabeça dela as sobrancelhas começam a falar antes da boca, enquanto os olhos encontram o seu interlocutor ou o objeto do seu interesse. até os olhos parecem se mover de vagar e com esforço. com esse olhar em branco ela percorre suas companheiras de jantar. com ela, 4 mulheres, a velha corcunda, a avó, a mãe, a criança.

vamos exagerar um pouco a realidade para dizer que as mulheres sentam a mesa numa posição que parece as colocar em pontos de uma espiral em proporção aurea, a partir desta, a mais velha, percorrendo as seguintes por idade decrescente, abismo da derrota humana. todas as mulheres olham para a mais jovem, uma criança, a criança olha para todas mas seu único foco é a si mesma, o centro da atenção. se essas mulheres olhassem para o lado esquerdo veriam seu passado, se olhassem para sua direita veriam seu futuro, a corcunda veria o nada, o futuro de todas.

a criança faz uma serie de perguntas a sua vó, que ainda é jovem. a beira da comunicação adulta, o entendimento de mundo da criança é feito de retalhos do que ela percebe do mundo, sua percepção arranca significado do parelhamento de qualquer informação A com informação B enquanto a linguagem rudimentar não alcança a infinidade de detalhes e significados misturados que um adulto ousa fingir dominar. esse cerebro jovem no formar significado acaba revelando realidades que nossos cerebros não veem mais quem é sua mãe? minha mae é acirema. quem é sua filha? meu filho é ednaldo. nãaao, sua outra filha, a filha pequena. eu não tenho filho pequeno. e ela? ela é minha tia. não, ela é sua filha.

a criança rasgou o tecido de toda a construção social das três senhoras a mesa com ela e viu a velha como um semelhante, uma filha, alguem que recebe cuidados, e fez isso com a menor quantidade de significados possível. se atendo a observações que só seu cerebro captou e que as palavras que essas mulheres dizem nunca proferiram diretamente.

com sua agulha e fio para atar um nó unindo criança e velho ela rasgou a cabeça de duas senhoras, a corcunda e a avó. essa agulha errou a cabeça da sua mãe também à mesa, por ser muito nova e não ter sentido na pele ainda a debilitação agravante da idade. com esse rasgo se fez silêncio. ninguém se expressou mais. eu não imagino a velha pensando muitas coisas, mas imagino que esse rasgo causou uma dor, e no silencio e na dor da derrota dessa situação para que ninguém se planeja, de se ver como inválido, a velha carregou sua tremedeira ao longo da sala de jantar com o seu andador colorido até a cadeira conformada pelo seu corpo onde despeja seus ossos e relaxa a maior quantidade de músculos possível, como de costume. ligou a tv com o menor movimento do indicador para receber a morte adiantada do seu cérebro por meio da programação do momento e poder esquecer a dor revelada pelas palavras pontudas da criança.

mas dessa verdade ninguem se esconde constantemente, e a avó, efetivamente e entitulada como mãe da velha, carregando esse fardo é que não tem como esquecer. ela aproveita um pouco do silêncio enquanto sua tia-filha não morre e não chega sua vez.
















quarta-feira, 24 de agosto de 2016

fast times at ridgemont high - 1982 - underage sex / aborto

coming of age. o filme mostra seu cast se relacionando entre aulas e trabalhos simples em restaurantes, lojas e um teatro durante seu ultimo antes da graduação.

filmes como esse sempre me impressionam pela leveza com que carregam certos assuntos junto com sua história principal. nesse caso talvez nem tendo uma história principal. fast times in ridgemont high é baseado num livro de não ficção escrito por cameron crowe que passou 1 ano disfarçado em clairmont highs chool em san diego coletando histórias para seu livro. isso é um livro que deve valer a pena ler.

stacy é atendente no mesmo fast food onde brad, seu irmão, é cozinheiro. stacy só quer saber de meter, tem 15 anos, mas diz ter 19 pra sair com um cara de 26. a coisa dos jovens terem o costume de pararem em locais públicos para transar está nesse filme, e o lugar que ela transa com esse cara é bem merda. o fato dela ser de menor não é um problema no filme.

stacy é uma fudida, todos os caras que ela se mete nao querem saber dela depois. ela sai com rat, um cara mais do estilo geek inseguro que adiquire confiança pelo discurso do seu amigo mike. ela leva ele direto pra casa depois de jantar, doida pra meter, mas ele amarela e dá o lavra com uma história merda. ai ela fica afim do amigo de rat e é bem direta com ele. mike nao nega fogo e come ela, goza rapido e dá o lavra cariado. depois de sair com rat e com mike nenhum dos dois quis dar conversa a ela, mike aparentemente pq é otario, cariado, e rat pq é mamão.

mike engravidou stacy e ela vai lá abortar. isso é tudo muito normal na história, assim como ela transar com um adulto, o grande problema é o idiota do mike nao levar ela na clínica de aborto nem pagar a metade dele do custo. o irmão dela percebe a merda e ajuda ela e fica de boa, abortar não é problema nenhum, inclusive eles decidem guardar segredo dos pais.

no final ela decide que o négocio não é meter, mas ter um romancinho, ai combina com rat que é mamão e tava querendo um romancinho também.


o filme termina um pouco depois da dança de graduação.
mike se desculpa a rat por ter comido a nega q ele tava afim. os updates de história de cada um no fim do filme mostram que mike foi pego por fazer revenda de ingressos pra shows. nunca vi ninguem ser preso por causa disso aqui.

cast incrível, com judge reinhold, nicholas cage, sean penn e forest whitaker.

judge reinhold parece nao ter feito mais nada massa alem dos seus filmes dos anos 80, o que é uma pena, ele tem uma voz imponente e é engraçado.

sean penn tá irreconhecivel para hoje, já mostra essa doidera dele na dedicação ao personagem.

para cage é um papel pequeno e para forest é seu primeiro papel.

não é um filme sobre diferenças sociais, então não tem uma enfase forte naquela coisa dos geeks vs cliques, nem dos ricos vs pobres. o que é bom porque vemos uma seleção de carros e personagens mais realistas, por mais que ainda sejam caricaturas de certa forma.

linda e stacy aparecem nuas, a nudez não parece forçada, está dentro dos contextos das cenas, com uma certa crueza que está presente no restante da produção e nas relações sutis entre os personagens, talvez por se basear em um livro de não ficção. podemos dizer que esse filme é o ponto neutro para medir os outros filmes de coming of age da mesma época.

the dead zone - 1983 - o futuro é mutável, but should we?

acostumado com, talvez, a preponderancia de filmes simplistas nos dias de hoje, baseando-me nas dicas iniciais do filme em referencias a the raven e the legend of sleepy hollow, achei que poderia ser apenas sobre a relaçao deste homem com suas mulheres, e seu principal antagonista seria o serial killer que estuprou e matou varias mulheres em castle rock, cuja relação com mulheres é distinta e adequadamente oposta a relação do protagonista. acaba que este não foi o unico antagonista, mas um dos degraus no desenvolvimento de john no entendimento de sua situaçao e aceitaçao do seu novo poder.

o mais importante sobre essa questão é que este nao é um filme sobre um inimigo, hoje os filmes parecem ser sobre inimigos, (perdao por generalizar os filmes de hoje) este é um filme sobre uma situação, e nesse quesito, apesar de nao ter lido ainda, posso supor que faz parte do estilo de stephen king, talvez uma brasa que esteja mais acesa na literatura, menos, no cinema, a historia é sobre uma situaçao, majoritariamente na vida dessa pessoa, john, o protagonista, mas podendo escapar do mesmo, ou do que o mesmo vivencia. posso dizer que é assim tambem em 11.22.63 e em under the dome. sao historias que abordam um se, um what if. ate a extinçao, ou soluçao das perguntas e curiosidades sobre a questao, ate a satisfaçao do escritor e do leitor.


sequencia de abertura
é de wayne fitzgerald, as imagens nao parecem remeter a itens diretamente relacionados ao filme, mas é misteriosa e da espaço pra a musica de michael kamen crescer, enquanto o titulo do filme vai sendo revelado.

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então, the dead zone é sobre um professor de inglês, john, que se encontra acordando de um coma de 5 anos apos um acidente de carro. ele logo descobre que adquiriu um poder, second sight, ve o passado, o presente ou o futuro de quem ele toca, ganha uma oportunidade de agir com esse conhecimento, que vai alem do que pode ser visto normalmente. a origem do poder nao é importante. o personagem cresce a entender o que pode fazer com esse poder depois de superar as perdas causadas pelo acidente e consequente coma.

o filme começa com john recitando o final de the raven e recomenda que seus alunos leiam the legend of sleepy hollow que ele resume ser sobre um professor de inglês que é perseguido por um demônio sem cabeça. se os alunos entendem the raven de edgar allan poe de primeira eu nao sei, mas a cena prenuncia seu destino e coloca ambas obras como referencias que alguns temas giram em torno. em parte pode se ver uma relaçao tambem entre ichabod e john.


dor de cabeça
john tem dores de cabeça durante sua jornada, e parecem estar relacionadas ao seu poder, porem ele teve uma dor de cabeça semelhante antes de se acidentar, na montanha russa, essa passa batida no momento, ele e sarah, sua noiva, não se importam muito com isso. mais pra frente, a dor de cabeça é stopim para seu médico comentar que ele está piorando da sua condição, mas o motivo ou a relação com seu poder não é elucidada nem hipotetizada. imagino que a fonte do poder é algo na sua cabeça e talvez o acidente seja apenas um catalisador que acelerou ou permitiu o seu desenvolvimento.


já é de noite quando john deixa sarah em casa. ela oferece para que ele fique a noite lá, ele diz que pode esperar por isso, e mesmo com chuva dirige, um fusca, eu já dirigi um e sei que aquele limpador não presta pra nada mesmo, nem adianta passar a mão no parabrisa. era um fusquinha lindo, o icônico putaquepariu, o teto revestido com um forro creme com bolinhas e descosturando na beira, clássico. só assim, de noite, chovendo e com aquela luz ruim do farol que dá pra ele não ver um caminhão tanque dobrado na estrada. pra quase chumbar ele de frente, sorte de john que o tanque parecia ser de leite, e não era um filme de michael bay, pois se fosse ia é explodir na certa.


relação com mulheres e deus
john acorda do coma e conversa com weizak, seu medico, que nao conta a ele que esteve 5 anos em coma ainda, assim, john se impressiona de ter saido de um acidente grave e estar sem bandagens nem arranhoes. ele pensa que é sobre essa sorte/milagre que sua mae esta falando quando entra no seu quarto ate entender que sua sorte é a de acordar apos o coma. a sorte é da mãe de ter seu filho de volta, e ela mostra ressentimento em sua noiva ter desistido dele, e casado com outro. moved on.

john perde os alicerces originais da sua vida, sua saúde, sua mulher, seu trabalho. ele retrocede a familia, o pai e a mãe. em seguida ele perde sua mãe, de forma que tambem parece ser coincidencia, durante uma entrevista que ele da aos jornais e ela esta assistindo.

sua relação com mulheres é que se devotou a uma, depois que a perdeu, voltou a mae e a perdeu tambem. os dois primeiros casos que ele ve com seu poder o permitem salvar a filha de uma enfermeira, de sua casa que pega fogo no presente, e reunir o seu medico a mae dele, supostamente morta em algum contexto de guerra.

the raven é sobre um narrador que lamenta a morte de sua amada, lenore. até aqui, todas as mulheres são lenores, john faz seu papel em ajudar outras pessoas a reencontrarem as suas, ou impedir que as percam enquanto ele perde as dele.

como carly rae jempsen diz you took your time with the call, I took no time with the fall, os sentimentos sempre chegam a flor da pele em momentos diferentes para o homem e a mulher, no primeiro reencontro de john com sarah, ele está em cima da situação, sob controle, ela sai aos prantos no carro. a situação se inverte em outro momento quando ela vai a sua casa com o filho. ela remete a noite que ele a deixou em casa, dizendo que já esperou demais. transa offscreen, ela fica, faz o jantar, o pai toca na ferida, faz tempo que não tem uma familia jantando nessa mesa, obviamente doendo no entreolhar do casal a brevidade e insustentabilidade da situaçao. dessa vez o espaço foi dominado por sarah, e quando ela sai com o carro é ele que esta sentindo enquanto ela parece resolvida, ele marejado. em conversa fica estabelecido que aquilo não se repetira.

no primeiro contato com o xerife john esta se vendo desgraçado por deus  quando deus entra em pauta  enquanto o xerife se refere ao poder como bençao. john ainda esta lamentando sua propria desgraça, so depois ele decide ajudar o xerife. seu antagonista nesse momento é um estuprador que mata suas vitimas, e abusa do confiança que elas tem nele para se aproximar e cometer o crime. é um dos policiais, e john descobre, tocando-a, que a mae do serial killer sabe dos crimes do filho e esta o protegendo. esse personagem tao oposto fecha o ciclo de lamentação para john e de certa forma o deixa em paz com as suas lenores.

curiosamente, esse vilao parece estar em todas as cenas em que seus crimes sao debatidos, parece ser mais um momento de foreshadowing no filme, coincidente ou nao.

acredito que o fim do seu episodio de lamentação se da logo antes do episodio de determinação, o segundo momento do filme, começar, quando, dando aula para um aluno particular, o mesmo esta recitando the raven, a obra aparece novamente enquanto o protagonista se encontra pensativo, refletindo internamente sobre seu proprio ciclo de lamentaçao.

o poder
as he was a bachelor, and in nobody's debt, nobody troubled about him anymore. trecho de the legend of sleepy hollow que ele usa para demonstrar a sarah em seu primeiro reencontro, seu desejo de ser deixado em paz pelas pessoas.

o poder so funciona com o toque a outra pessoa, mesmo morta, e ele descreve para o pai que é como se estivesse morrendo quando vê. o filme o mostra se tornando presente no que ele está vendo, seja no presente ou passsado. no futuro ele so assiste. alem de sentir o momento ele aprende mais coisas que nao se vê, como o nome de alguem, seu endereço, etc, coisas que o filme nao mostra. mas para descobrir quem é o assassino foi importante que ele visse o rosto, para isso foi importante seu posicionamento no local. provavelmente só uma questão de tempo de filme para revelar a identidade do cara, mas interessante para entender o poder.


é um segundo momento no filme, pos-lenores, onde john se reestabelece e volta a ensinar, porem em sua propria casa, uma nova casa em outra cidade. as linhas de the legend of sleepy hollow que ele recitou a sua ex-noiva continuam uma verdade pela qual ele conduz sua nova vida, apesar de continuar sendo procurado por pessoas interessadas pelo seu poder. ao contrario de ajudar essas pessoas ele acaba topando em uma situaçao que decide intervir.

é interessante que muitos personagens vem e vao, na história de john e como ele lida com seu poder.
um pai solicita que john de aulas a seu filho, que parece isolado para ele, isso permite que john conheça um dos candidatos politicos do momento, e receba a informaçao desse pai que o candidato nao é gente boa.

esse tandem do aluno e seu pai estabelece o segundo passo de evoluçao do personagem, ele esta resolvido com as mulheres, mas se isola e se sente isolado de progredir com uma vida normal enquanto evita o seu poder (destino de usar seu poder). por acaso ele toca o aluno e ve como sua morte. ele conta ao pai e perceber que pode alterar o futuro dessa criança lhe da nova direçao.

ao tocar a mao do candidato corrupto  so o espectador sabe disso com certeza ate o momento  ele vê um futuro presidente desastroso para o mundo.

futuro
ver o futuro nao implica na imutabilidade do mesmo. stephen king escreveu the dead zone em 1979, e parece haver elementos semelhantes a mesma questao levantada em 11.22.63. em ambas as historias inclusive, ha momentos semelhantes onde o personagem é mentorado por uma figura mais velha, em the dead zone o medico faz esse papel, em 11.22.63 é o amigo que o transfere seu poder de viajar no tempo ao protagonista que lhe serve como mentor. ciente do futuro negativo do candidato, e da sua capacidade de alterar o futuro que viu ele pergunta a seu mentor se o mesmo voltaria no tempo para matar hitler, se tivesse esse conhecimento e poder na hipotese. o medico diz que sim, e motivado pelo seu mentor, john arquiteta o assassinato desse candidato.

a tentativa da errado em matar mas é o suficiente para alterar o futuro. john tem a oportunidade de o tocar novamente e vê que em seu novo futuro ele se suicida devido ao fracasso.

em 11.22.63 o protagonista volta ao passado para tentar evitar o assassinato de john kennedy, na data que da nome a obra. todo seu esforço serve apenas para descobrir que se ele fizer isso o futuro do mundo sera desastroso, o que o força a voltar novamente e desfazer as alteraçoes iniciais, permitindo que kennedy seja morto.

ao concluir esse filme so pude pensar que o assassino de kennedy bem poderia ser um viajante tambem, enviado para evitar um futuro tragico da unica forma que ele soube. as duas obras acabam debatendo sobre a imprevisibilidade do futuro mesmo se o alterarmos, e se é certo faze-lo. exceto que em um temos o assassino sendo criado e no outro temos a busca em evitar o assassinato.

john escreve uma carta para sarah se despedindo e dizendo para confiar que o que ele estava fazendo é importante. determinado, apos se esconder tanto do seu poder. jake, em 11.22.63 esta em duvida sempre, e sua amada esta no passado, criando, na serie outras questoes e a possibilidade de poder viver com seu amor, que john nao teve.


dead zone 
significa em ingles, de forma abrangente, uma ausencia. normalmente, uma area do oceano com pouco oxigenio e portanto, ausencia de vida, ou uma area onde nao se recebe sinal de telefone ou radio, comunicaçoes, ausencia de comunicaçao.

nao pude perceber nas visoes, mas ele explica para seu medico que nas suas visoes ha uma dead zone, ai fica o significado do filme, essa dead zone, esse espaço em branco de alguma forma esta envolvido com a possibilidade de alterar o futuro.


john é um personagem perdido. de certa forma, expelido de uma vida normal, talvez o sonho americano, ele encontra seu proposito e vira uma pessoa determinada no final do filme, e nos momentos que seu talento lhe da uma nova funçao. enquanto foge do seu talento ele nao se encontra na vida, afogado no luto da sua perda.


sábado, 13 de agosto de 2016

risky business - 1983 - subplot: puta de luxo fugindo do cafetão

engolindo a lorota do amigo, joel se empolga pra fazer merda quando seus pais viajam durante o fds. come uma puta, destroy o carro do pai, vira cafetão por um dia e cobre todos os danos a tempo dos pais chegarem e nao perceberem nada.

assim como em dirty dancing, é refreshing ver um filme onde um assunto que poderia ser delicado é simplesmente aceito, e simplesmente faz parte da história, sem muito julgamento.

quando os pais de joel viajam a amigo dele liga pra uma "call girl", forçando ele a ter um encontro com essa nega. turns out que é um travecão marombado e joel tem que sair dessa de boa sem levar umas porradas. ele consegue, e o cara dá um numero de uma nega boa que ele acha que vai ser o que joel gosta. 

o filme começa com uns sonhos, e essas partes são muito boas, ele tem uns sonhos safados mas a safadeza é empatada pelas suas preocupações com seu futuro de faculdade moral e respeito etc. até quando ele vai bater uma  e começa a imaginar as safadezas que ele curte, que no caso é comer uma babysitter, ele é empatado pela policia que chega com os pais dele e o pai da babysitter pra dizer q ele não tem futuro.

a trilha sonora é bem synth e tá bem massa pra hoje em dia.

o filme é mais leve, mas não tem risada fora do lugar. joel dá uma procurada no jornal por outra puta mas acaba decidindo ligar pra o numero que jackie, o traveco, dá pra ele. o numero é de lana e a cena é massa porque parece com um dos sonhos dele, voce fica esperando que vá dar merda em algum momento mas ai a cena acaba e de manhã a nega tá lá ainda, então não só foi realidade como também a nega dormiu lá, massa, muitos pontos pra ele.

o que eu digo que o filme é light mas nao tem risada fora do lugar é que quando aparece o traveco joel se sente em apuros, querendo esquivar da roubada e enquadrar o amigo dele, o personagem não acha engraçado, é a parte do espectador, de sentir pela situação, ou rir ou empatizar com o personagem ou o que for, o filme não te obriga a rir. hoje eu imagino que os filmes forçam muito voce a rir, inserem piadas em todos momentos e quebram, induzem a audiencia. 

então, por sinal, lana é o tipo dos anos oitenta, uma magrinha massa de pouco peito, e cobra dele de manhã, 300 conto pelo serviço. uma pesquisa rápida diz que 300 conto em 1983 seriam 727 contos americanos hoje, isso vai pra 2181 traduzindo pra contos brasileiros, ou seja, não foi qualquer serviço. ele não tem dois mil reais no bolso da cueca, mas disse que podia pegar no banco de boa, e enfim, nessa historia ela some.

mas ele acha ela depois num hotel massa, lana se disfaz do cafetão dela e pede uma carona a ele, o cafetão chega batendo com a arma no vidro do carro e ele sai, tendo que depois despistar ele que decide perseguir de carro, enquanto lana fica saindo pela janela pra falar merda.

isso é massa também, você pensa que é um filme de high school e de repente tem cafetão batendo no vidro do carro e perseguição. o ponto light do filme é o cafetão não ter usado mais força, ou ter dado um tiro, ele é um vilão light, mas a cena da arma é mais forte, e novamente, o filme não ri pra você, então você está livre pra rir do absurdo ou entrar na mesma dos personagens.

o filme não vai tratar dos problemas de ser puta, lana está de boa com isso, com seu negócio, e suas amigas também e é massa ela estar fugindo do cafetão mas isso é só um subplot. por sinal, ela lembra audrey hepburn em breakfast at tiffany's só que loira. no final rola a velha festinha na casa dos pais, só que é com joel e lana sendo os pimps, lana tendo chamado todas suas amigas para trabalhar e joel chamando todos seus amigos para desenbolsar seus cofrinhos pra ele poder consertar o carro do pai que ele atolou no lago michigan fazendo merda. 

ele recupera o carro, sobra uma grana acho e ninguem é assassinado num beco escuro e jogado numa lixeira, nem ele nem lana, o que podemos considerar um caso de sucesso por si só. o filme também não amarra o casal para a felicidade eterna, embora eu não ia achar ruim, se eu fosse ele, de começar ali já meu negocio de cafetão com lana.

dirty dancing - 1987 - subplot: aborto

uma jovem tira ferias num resort para ricaços nas montanhas e se apaixona por um dançarino pobretão, os dois tem q lidar com a coisa dos preconceitos e de juntar esses polos do mundo americano.

a minha impressão é que os filmes dos anos 80 em geral pintam a coisa social bem em preto e branco, é rico x pobre, geek x cool, etc. não tem os meio termos. quando o filme não é sobre as diferenças sociais, os personagens acabam sendo da mesma classe.

dirty dancing já estabelece no começo como vai ser o tratamento do nucleo pobre, e quem é quem. é interessante a parte de como o staff é dividido entre quem é fudido e quem é bem de vida mas tá trabalhando lá (não sei porque) que são os garçons. a baby, a nega principal, já dá uma secada no patrick swayze da primeira vez que ele aparece então o filme não tá tentando te surpreender, vc já sabe que vai rolar.

eu acho que nesses filmes dos anos oitenta as coisas são um pouco mais cruas, mais diretas. hoje parece que todomundo é butthurt e se doi com qualquer merda, e ai a produção cultural não mete o dedo mais nas feridas. o plot de dirty dancing é "normal" girl meets guy, se desentende com a familia, calunias, coisa simples, embora hoje em dia eu nunca mais percebi a galera abordar esse tema, pode ser que o cinema cansou ou evoluiu mas enfim, o interessante é que no subplot, a amiga de johnny (patrick swayze), que se chama penny e também é uma dançarina fudidam, está gravida, então a protagonista, baby, que está ainda tentando se inserir entre os fudidos, vai lá se meter na vida dela e resolver, eles debatem sobre um doutor que vai aparecer por lá e eu demorei pra perceber que eles tavam falando de aborto.

me impressiona que esse assunto é tratado de forma tão simples, o filme não para pra trabalhar a questão de se o aborto é certo ou errado, a nega vai fazer um aborto e pronto, e os caras que são amigos dela entendem e tão de boa, ninguem em nenhum momento cogita que ela vai criar esse menino. ai baby vai lá pedir dinheiro pro pai pra  penny pagar o aborto, sem contar pra ele, claro.

quem embuchou penny foi um otário lá que é riquinho mas trabalha como garçom, e queria comer a irmã de baby, mas quando ela decide dar pega ele furando com outra, então o filme amarra bem o subplot com a catarse, esse cara ainda leva uns tapas de patrick swayze quando vai tirar uma gracinha.

ele, o antagonista comelão, encontra baby encostando em johnny na crew area e fala "I went slummin' too". uma frase bem pesada (e massa por causa disso) e que nao acho que sairia num filme hoje tb.

apesar de umas frases massas que johnny diz, ser pobre em filme americano ainda tem suas vantagens, no caso, todo o nucleo staff do resort mora numas casinhas bem limpeza, e a de johnny claro que é a mais massa de todas com uma vista massa e isolada das outras casas, pra ele meter, ouvir musica e chorar sua miseria em paz sem ninguem interromper e sem ser visto, exceto claro, pela ricaça que ele negou fogo no dia anterior pq já tava apx por baby, quando ela arranjou outro staff pra cornar o marido dela, staff esse que tinha uma casinha convenientemente com vista para a de johnny.

é um summer love, o filme não amarra dizendo que eles vao ser felizes para sempre, nem dizendo que cada um vai pra seu lado. todos os ricos são porcões, são os vilões da historia, exceto o pai e a mae de baby, pai inclusive que encontra com o casal no fim pra dizer que o cara é limpeza, sendo entao o unico ricão que se redime assim na vista da protagonista, que é importante, já que ele é o pai e rola todo o stressinho familiar no meio do filme devido a quem comeu quem.


mesmo quando americano faz filme sobre pobre é meio dificil fugir da estética rica, e a maior parte do filme parece ser envolta do nucleo rico qdo na verdade é mais sobre o nucleo pobre. dirty dancing é a dança mais erotica e suja do staff, que dança na moral nas suas festinhas pós expediente, já que nas festas dos ricos é só aquelas dancinhas merdas e eles são proibidos de dançar com o caralho todo.