sábado, 12 de dezembro de 2009

2009 346

eu acordei com Elis gritando. me levantei num pulo, o lençol ficou no chão. corri para o corredor, onde a encontrei saindo também do seu quarto, chorando e gritando. ela foi em direção ao quarto dos nossos pais, e meu pai já estava abrindo a porta. ele a acolheu, ficamos sentados na beira da cama dele com elis chorando e os dois nos telefones, minha mãe não estava lá. Eu captei aos poucos o que ela estava falando. papai parecia já saber do que se tratava.

elis acordou com um telefonema. mamãe, mais cedo acordou com um telefonema também. foi tânia que ligou para mamãe, a empregada que foi contratada nessa mesma semana para cuidar de vovó Acirema e tia Albanize. tânia disse que só podia falar do que se tratava quando mainha chegasse lá.

tânia estava dormindo no quarto de vovó. ela acordou por si, antes do horário que minha vó normalmente acorda. quando ela percebeu vovó já estava morta.

vovó faleceu pela manhã, sexta dia 11 de dezembro. mamãe falou que não fazia muito tempo que ela havia morrido pelo estado do corpo. disse que deve ter sido enfarte, os dedos estavam roxos. a gente fica pensando se ela sentiu dor, se foi ruim morrer, ou se morreu tranqüila. mamãe disse que a cama estava molhada, a gente fica pensando se ela acordou na hora.

tânia estava dormindo no quarto de vovó porque quinta-feira da semana passada vovó se acidentou em casa, fez um corte na cabeça, ficou com o corpo dolorido da queda, mas não quebrou nenhum osso. nesse dia eu e mainha fomos na casa dela e a levamos no hospital, era madrugada, três da manhã talvez. será que essa foi a hora também que ela faleceu? oito dias depois. no hospital, o corte era grande, o médico fez pontos. foram feitas radiografias mas apesar da dor que ela estava sentindo no corpo todo, ela estava bem.

por causa da queda ficou decidido que a ajudante iria dormir no quarto de vovó para cuidar dela melhor, principalmente no evento dela se levantar de madrugada por algum motivo, que foi o que aconteceu no dia do acidente. e agora depois da queda, por causa da dor ela não estava conseguindo se locomover sozinha.

ontem, dia 11, eu fiquei acordado até tarde. eu fico pensando se minha vó estava acordada também, ou se faleceu naquela hora, ou quando eu fui dormir. quando eu me deitei já estava clareando.

no dia em que se acidentou, quando saímos do hospital a levamos em casa, deitamo-na em sua cama, conversamos. quando saímos de lá já era hora de acordar e viver o dia, talvez seis horas. quando ela estava na cama eu olhava pra ela e sorria, ela sorria também. eu beijei a mão dela, e a testa, antes de sair. o sorriso dela sempre foi bonito, mesmo em situações como essas, acidentada, incapacitada. eu sei que ela sofria muito com a degeneração da velhice, e com a solidão, viúva.

mainha, e todos nós, esperamos que ela tenha morrido do jeito que queria, dormindo, sem dor. mas se eu me lembro, ela tinha medo de estar sozinha na hora. e eu não sei a opinião das outras pessoas, mas eu não sei se estar com tânia no quarto, ou tia albanize em casa contam, ela estava sozinha, sua familia não estava lá.

elis chorou muito. elis marcou uma viagem para dezembro, passar o natal e o ano novo com as amigas no Rio . vovó estava apreensiva em relação a viagem. juntos em casa, enquanto nossos pais cuidavam das coisas, que um dia nós vamos ter que cuidar, ela compartilhou isso. vovó contava os natais a distancia de vovô, ja falecido há bastante tempo, sentia, elis disse. elis tinha combinado de ver vovó no domingo, porque ia viajar na terça.

tia patricia ficou devastada quando soube, por telefone. ela não vinha no brasil há mais de um ano, estava juntando para vir de vez e ficar mais tempo com vovó. acho que tia patrícia foi a terceira a saber, das quatro irmãs.

mainha contou que tânia disse que de noite, as 10h da quinta-feira, ela levou voinha no banheiro e ela se prepararam para dormir, a hora normal para a minha vó. e tânia disse que vovó estava muito bem, e tinha se locomovido bem ate o banheiro. foi a visita, minha mãe disse.

a morte é uma coisa muito grande, não cabe na nossa cabeça.

xau vó, te amo.

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