terça-feira, 12 de julho de 2011

Californication Alternative Master Bootleg, Loudness War, opiniões

Esbarrei no Californication, de Red Hot Chilli Peppers, durante um shuffle da vida, e decidi parar pra ouvir, mais uma vez. Como é um hábito hoje em dia, aproveitei o momento para ler sobre o cd também. Felizmente o Californication é um album bem coberto no wikipedia, o que as vezes depende mais da banda que dos fanáticos que organizam a informação.

Nessa leitura descobri o termo Loudness War. "The loudness war or loudness race is a pejorative name for the apparent competition to digitally master and release recordings with increasing loudness." Então, o que vem acontecendo, "desde sempre" no que se trata de masterização, é que os albums são masterizados em volumes cada vez mais altos. De acordo com o artigo, a guerra começou com o CD, mas já acontecia com vinyl; como as jukebox tinham o volume predefinido pelo dono, o vinyl que viesse masterizado mais alto iria evidentemente chamar mais atenção.

No CD a consequência do aumento excessivo do volume é o clipping do sinal, o que quer dizer que parte da música foi perdida pois o volume máximo que poderia ser gravado já foi atingido. e o artigo continua de forma bem mais especifica a falar da situação.

Voltando a Californication, em resposta ao lançamento oficial extremamente alto existe um Californication Alternative na internet, essa versão é um bootleg que ninguem sabe de onde veio, mas que representa um estagio anterior ao produto final, onde as músicas ainda possuiam seu volume preservado. outras diferenças sao a ordem das músicas e a inclusão de outras músicas. Procurando por esse CD eu esbarrei na barreira da ironia, em um dos links que o google sugeriu, pessoas em um forum procuravam pelo Alternativo, mas só achavam uma versão de 192kbps.

Quem começa a andar pelas areas dos audiófilos sabe que existem estágios de qualidade da música, ou do sinal/gravação da música: Vinyl > CD e para arquivos digitais: Flac > Apple Lossless > mp3 320kbps [ou apartir daqui outra terminologia pra os mp3 que é V0 V1 e V2 > 192kbps. Isso quer dizer que depois do vinyl e do cd, e teoricamente do flac e do m4a [apple lossless] os formatos digitais recorrem a compressão do arquivo e a clipagem do som para diminuir o tamanho do arquivo. Então se você busca qualidade no som, não é num mp3 de 192kbps que você vai achar. 

Não é muito fácil achar esse album, encontrei somente num private tracker de audiófilos que frequento e decidi baixar. o que é irônico é que quase tudo que eu baixo nesse tracker eu me arrependo. como ele é private você tem q manter o ratio entre upload e download, e isso é muito difícil de fazer, então a cada download seu ratio piora um pouco. eu acabo baixando lá só o que é extremamente difícil de achar, e a maioria desas coisas escusas, são escusas porque você nao vai ouvir o tempo todo mesmo.

Mas falando do album agora, o som do Californication Alt é realmente bom, é nítido, limpo, claro, e mais adjetivos que significam quase a mesma coisa. os sons ficam mais distintos, os que devem ficar atras da música e os que se destacam e tudo, tudo no lugar. inclusive nao tem aquela voz bizarra no final de Right on Time / começo de Road Tripping que me perturba desde a primeira vez que ouvi esse cd.


Estranhamente, uma banda que eu achei bastante aberta pra falar sobre a vida e o processo de criação dos albums, abertura demonstrada pela quantidade de informação nas páginas do wikipedia, nao comenta sobre o grande debate da masterização de seus CDs. Muito embora normalmente eu nunca tenha visto alguém comentando abertamente sobre defeitos na sua produção de sucesso. Ninguém diz "esse cd da gente que vendeu um milhão de copias tem um defeito horrível aqui e ali mas foda-se" não rola.

Pra mim é importante ouvir argumentos em defesa do suposto erro de masterização, mas não há, inclusive, enquanto lia, mas nao li todo, o artigo sobre Loudness War percebi que a cobertura do assunto parecia vir apenas de críticos e sistemas de som de alta definição, claro que algo que não seja isso, como as pessoas e consumidores normais são coisas mais difíceis de atingirem a wikipedia por causa das regras de validade do material [deve ser algo publicado tantas vezes ou algo assim, uma opinião pessoal evidentemente nao conta e a massa provavelmente nao se importa com algo tão pequeno], enfim, com minha mentalidade de mercado formada no berço do design eu vejo motivos que tornam o volume excessivo na masterização um não-crime.

Não era somente por querer ouvir mais alto que as pessoas tendiam a escolher as músicas mais altas na jukebox, é por querer ouvir tudo. Todos que ja andaram pela cidade, pegaram um ônibus de fone de ouvido podem ter percebido que parte da música vai embora junto com o barulho do mundo. Então ouvir alto também é em certas situações a única possibilidade de ouvir tudo. Eu não acho que as jukebox são renomadas por um som perfeito [mas isso eu suponho é claro pois eu nao conheço as jukebox do passado].

Então em meio a poluição sonora, se uma faixa auditiva da música vai ser perdida a solução é aumentar o volume pra poder ouvir esses detalhes. Eu lembro que no terceiro ano havia um cd que eu escutava, e em certo momento uma parte da musica sumia no barulho da sala, uma parte exata e era muito interessante como simplesmente nao dava pra ouvir ela.

O problema em aumentar o volume em uma masterização "normal" é que a distancia entre os sons "baixos"
 e os "sons" altos vai ser muito grande, então você ouve os detalhes mas também fica incomodado com partes altas demais, e foi isso que senti durante uma caminhada que aproveitei pra ouvir parte do cd, pra poder ouvir tudo o volume estava me incomodando.

Então para mim o Clipping se torna uma parte importante de fazer a música escutavel pela maioria do publico que tem só um som meia boca, e é suficiente, voce aumenta o volume de tudo, no master, e rola um clipping, assim a distancia entre os sons é menor e você pode ouvir a musica sem ferir os ouvidos para entender os detalhes.

Pra finalizar com esse album, Californication, eu digo que entendo a diferença, até onde meu ouvido e meus fones permitem. Músicas como Road Trippin' ganham muito com o master normal, a nitidez colabora com o som acústico e a voz, mas para a maior parte do cd o volume excesivo e a sujeira resultante é benéfica pra mensagem e a estiga do album, e fica certamente mais decente de ouvir nas situações do dia-a-dia. mas para escutar em casa, no silencio e com toda a disponibilidade de volume, vale a pena ouvir o master alternativo.

No final, é uma questão de público. como o público consome aquele produto. eu dei uma olhada no artigo da wikipedia sobre o Stadium Arcadium também de Red Hot porque eu lembro que quando eu ouvi pela primeira vez eu achei o som estourado, com um feeling Californication. o masterizador dos dois albums é o mesmo, mas o Stadium Arcadium também foi lançado em vinyl, com outra masterização, outro masterizador, com níveis de volume normais. Assim, a oportunidade existe de obter as músicas da forma mais coerente com sua forma de ouvi-las. Para mim o lançamento do Stadium Arcadium em duas formas é o sinal de que talvez essa também seja parte da opinião da banda a respeito dos albums.


Pra terminar, eu não consigo separar de mim a sensação de estar me enquadrando um pouco a situação retratada em um dos personagens de nick hornby no livro Juliet Naked, na busca pelo som perfeito. mas minha busca é seriamente mais breve que a dele, e tropeça na minha noção que nao sou especialista em nada e não garanto nada do que digo alem de ser apenas a minha opinião sobre apenas aquilo que sei.




2 comentários:

  1. Olá Mateus, muitoa boa sua colocação a respeito do Californication, é notável a exorbitante ''má'' qualidade do album, eu ando procurando a um tempo esse Californication alternativo e não encontro, será que hoje você ja tem o CD ?

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    1. Manolo, interessante que eu estava lembrando desse cd outro dia. eu ainda tenho ele, posso te passar. tem outra forma de contato?

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