sábado, 5 de fevereiro de 2011

em caso de assalto nao reaja

na rua, o recomendado em caso de assalto é não reagir, se desfazer dos seus pertences, seguir as ordens do malfeitor, poupar a sua vida. de madrugada os motoristas passam no sinal verde dos cruzamentos devagar, com cuidado para não serem atingidos pelos carros de outros motoristas que estejam passando pelo sinal vermelho.

se um pais, vamos dizer uma monarquia, fosse atacado, e o rei se dirigisse para a população e dissesse "não vamos reagir aos ataques, vamos baixar nossas armas e nos render, obedeceremos aos comandos do exercito invasor" essa nação deixaria de existir. ai, que identidade, que historia, que valores essas pessoas estariam carreando em suas vidas? elas se permitiriam ser subjugadas e o património do seu pais ser tomado e dessecrado, e não fariam nada a respeito disso? é certo agir assim, para poupar a vida?

falando de países ainda, os países não fazem isso, os países que existem, e os países que querem existir [mas não existem ainda do ponto de vista dos seus dominadores] lutam, e se sacrificam pelo que acham certo e pelo que querem para si. eles morrem e eles matam outros para comprar a briga e defender os seus direitos.

se o seu opressor está te tirando a liberdade, a identidade, a posse, você tem que brigar.


a ideia do pais é só uma comparação para agora pensarmos na nossa atitude individual, na cidade.

o que acontece quando todos os homens corretos aceitam as agressões que lhe são feitas, ao ar livre e em pleno dia, é que o agressor se sente confiante para praticar de novo. nas nossas ruas são os ladrões que andam de cabeça erguida, e os cidadãos que andam rápido e com medo.

antes eu expus ideias parecidas para amigos, mas eu não consegui encontrar a forma de dizer. porque há uma forma de dizer pra tudo, deve-se evocar as palavras certas na memória do ouvinte, para que ele entenda. eu não sou bom nisso, mas eu acho que agora encontrei, embora sei que alguns são dormentes a esse tipo de ideia.

a questão aqui é como no caso do pais, é o mundo que você quer que exista, você tem que reivindica-lo.
eu não ando com medo nas ruas. eu ando com mais raiva que os ladrões. eu dou passos firmes, e olho nos olhos de quem passa por mim. se alguém vier me agredir, eu vou agredi-lo em retorno. a única forma de fazer a cidade nossa é toma-la dos que antes já tomaram de nós.

eu não vou ser parte do conjunto de pessoas que confere segurança e confiança aos malfeitores da cidade.

no transito, os valores se trocam. as pessoas pensam que os carros servem para correr apenas. as pessoas são licenciadas a dirigir sem saber as regras, sem saber como dar prioridade, onde parar, como proceder, desrespeitam as leis, não acham importantes as leis, mas não as conhecem nem se perguntam o motivo para que existam antes de questiona-las.

isso acontece porque os cidadãos esqueceram que eles também são parte da cidade. isso acontece porque praticamente todos os recifenses são ladrões. ladrões pequenos, com valores destorcidos. ladrões de propriedade intelectual, que pagam por comida e cerveja, mas nao pagam por filmes e musicas. ladrões que acham engraçado fazer pequenos furtos nos supermercados.

como que um ónibus entupido de gente pode ser roubado por um ladrão ou dois? ninguém reage, são alimentados de medo os cidadãos, que acham que não devem reagir.

isso acontece porque deixamos tudo para o estado e não fazemos nós mesmos.

e motivados pelo impulso correto, os brasileiros se comovem a falar do futuro do pais, de guerras e dos valores da nação, do presidente e etc. não vêem que os valores do pais vêem dessas coisas pequenas como a atitude deles, como agressores e como agredidos.


quando eu aprendi a pilotar moto, e tirei minha carteira, eu aprendi como uma moto deve proceder para sua própria segurança, e como o código diz q a moto deve obedecer o transito. foi tirando minha carteira de verdade, e não como um zumbi, que eu percebi que no dia que eu participei de um acidente, meu carro em choque com uma moto,  eu descobri que o motoqueiro foi imprudente.
mas na hora que aconteceu, eu não estava preparado para estar certo, eu estava preparado para estar errado.

o motoqueiro foi imprudente e passou no tipo de cruzamento mais perigoso para motos sem olhar as outras vias. eu passei no sinal verde para mim, e colidi com o motoqueiro que estava errado. ele saiu como certo. parou perto de nos, no acidente, outro motoqueiro, que estava pilotando em cima da faixa tracejada, ao invés de ocupar o espaço de um carro, como deveria fazer.

se fosse o eu de hoje, seria diferente. eu não deixaria de acudir a moça que feriu a perna no acidente, mas  eu não iria sair como errado, nem pagar o conserto do motoqueiro incompetente que pos três vidas em risco.


por isso eu digo a meus amigos, mas eles não entendem, que eu prefiro bater estando certo, do que dar vazão para as pessoas que dirigem perigosamente fazerem como querem. e eu prefiro me arriscar a me defender de um assaltante do que acatar suas demandas. na minha opinião, ser cidadão também é dar o exemplo.

mas eu não faço isso muito por ser cidadão não, eu também sou um cidadão fraco e ladrão. o que eu não gosto é de ver as pessoas exporem seus valores fracos e distorcidos que dão espaço para a violência estar como é hoje, como se estivessem certos, como se verdade só existisse uma, atemporal e própria.
se eles se calassem eu já ficaria menos aborrecido.

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