Saí de carro, tudo engarrafado as 10h30 da manhã, que ridículo. se pudesse teria ido de bicicleta, que por sinal, teve sua manuntenção adiada mais uma vez, por minha culpa mesmo.
De 11hrs da manhã no santa joana. eu só queria antibióticos, antiinflamatórios, esse tipo de coisa, pra trabalhar mais apresentável. A recepção da emergência me indicou para ser atendido pelo cirurgião geral. Ok por mim.
Duas televisões na sala de espera, que tem um formato esquisito. uma delas passa desenho, e a outra mostra quem é chamado para qual 'setor' com o numerozinho que te entregam na recepção. Não tinha crianças na sala, mas eu imagino que a televisão fique sintonizada na globo o tempo todo.
Muitos idosos, algumas pessoas circulando, funcionários conversando. A rotina leva o funcionário a se acostumar com o que vê, o ambiente, que vem com uma certa sobriedade e respeito, é quebrado de vez em quando por pessoas mais alegres, como os enfermeiros que passam conversando sobre a vida, nada demais.
Uma idosa passa numa cadeira de rodas, com um senhor ao lado. deve ser o seu marido. Pela conversa, ou melhor pelo que a enfermeira que conduz a cadeira de rodas diz dá pra entender que a senhora foi operada recentemente. 'ela' precisa perder o medo de andar para que a cirurgia faça efeito. A enfermeira fala com a senhora como se ela fosse uma criança.
Eu penso se no futuro vou ser um velho ranzinza achando a vida uma merda, indo e voltando em hospitais para cuidar dessa saúde cambaleante. tiro isso do meu abuso matinal de ter que ir no hospital, e passar por todo o procedimento sacal. Se já facilmente me deprimo nessa idade, imagina velho.
A senhora não se levanta da cadeira. seu suposto marido e a enfermeira esperam por algo. a infermeira está impaciente, batendo a perna. já perdeu a postura e está sentada numa cadeira da recepção ao lado da cadeira de rodas. Eventualmente alguem chega pra pegar a senhora. eu não vejo como ela passa da cadeira para o banco do pálio.
Próximo de mim uma garota está sentada, jovem, de vermelho e com os olhos marcados. parece estar sentada há muito tempo. Duas mulheres entram na emergência, passam por mim, vão a recepção. Conversam alegremente, parecem mãe e filha, estão vestidas iguais, blusa preta e calça jeans, igual a mim. Sentam ao meu lado, no conjunto de três cadeiras em que me coloquei na ponta direita. Viro o meu rosto de vez em quando para ver o desenho que está passando, das três espiãs, depois começa Dragonball. Vez ou outra há um estouro de risadas pouco contido da mãe e filha ao meu lado. A garota de vermelho está cochilando. Será por isso que riem?
Na Emergência do Coração um técnico conserta a porta automática, semelhante a da Emergência Geral, em que me encontro. Um nome é chamado, as pessoas não prestam atenção ao painel que chama os números. A mãe ao meu lado se levanta. Uma senhora senta ao lado da garota de vermelho, que está acordada agora. A mãe de preto volta a sentar.
Uma mãe entra com seu filho, que está mancando, ele é abusado, como toda criança de hospital parece. não se importa com a tv, a mae tem que mandar ele sentar. Eventualmente entra na pediatria.
Uma moça de branco passa pela emergência, me parece familiar, acho que ela já passou mais de uma vez. Eu me estico pra olhar, ela é breve na recepção. É Raissa, está bonita, está séria. passa novamente, saindo da emergência. Vai andando em frente até encontrar uma mulher, conversa, deve ser sua mãe. Voltam pelo mesmo caminho. Ela parece saudável, será algum problema na família? Elis me disse mais tarde que o pai dela tem alguns problemas, não me disse quais. Deve ser isso, ela passa com a mãe por um corredor ao lado da Emergência. Dá pra ver porque as paredes são de vidro. Acho que ela olha para mim, eu estava olhando para ela, mas não sei se dava pra ver de fora pra dentro. Depois disso fiquei um tempo pensando se devia falar com ela, se por celular, email, orkut, o que dizer, como dizer, porque dizer.
A senhora que sentou ao lado da menina de vermelho não parece a mãe dela. a menina parece indiana, morena, nariz e olhos característicos. A senhora parece com Margarida, professora, só que mais branca, mais gorda. Ela está conversando algo sobre a tv, é sobre Dragon Ball Z. eu estava assitindo pedaços. Não entendo o motivo dessas conversas casuais. Mas deixa a senhora e a garota de vermelho sorrirem um pouco com a leveza da mãe e filha de preto, já que elas parecem estar lá por algo mais sério. Acho que se olhasse mais direto para a senhora-não-mãe estaria me incluindo na conversa, mas não fui puxado para ela. Não gosto muito dessas conversas casuais, a maioria é desagradável e eu me sinto desconfortável depois. Foi fácil escapar, eu não estava olhando direto para as pessoas, nem com vontade de falar, devido a condição que me levou ao hospital.
O técnico faz a porta automática ir e voltar algumas vezes. Eu penso que seu trabalho está terminando, mas ele começa a desmontar tudo de novo. Eu tive a impressão que a porta estava um tanto lenta, talvez seja por isso.
Eu caio no mesmo pensamento besta sobre quando falar com as pessoas.
Muitas pessoas passam pela emergência, algumas apressadas, outras devagar, outras vão e voltam cansadas, com os olhos molhados, com vergonhas, com pressa, com medo, tristes, desgostosas. Algumas passam felizes, sorridentes, mas são poucos.
Mãe e filha entram na emergência. são muitas mães e filhas, percebo, muitas mães, mas na horas, são tão diferentes umas das outras que nem se percebe. A mãe arrumada, a filha, emo, farda do salesiano, fones de ouvido, olhar de quem não se importa, cabelo estufado e mal cuidado. Ela me surpreende, não sei porque, acho que é porque é diferente de todas as pessoas no local. Ela anda pela emergência, entra pela ala de pediatria, saí, como quem não quer nada.
Tantas mães e filhos, casais, velhos. Sou o único homem só do local.
Meu número apita no painel, embaixo de 'cirurgia geral'. Segundos depois o enfermeiro me chama, sigo-o. Entra numa porta a direita, segue um corredor a esquerda. tem uma área com umas poltronas com cabides para soro e etc. Já fiquei aqui uma vez, minha primeira crise alérgica, também a mais forte e mais esquisita, foi por causa de um xampu. Uma sala próxima a esse 'hall' chamada Procedimentos, e como se eu não soubesse como são os procedimentos hospitalares, tento responder a sua pergunta como se ele se importasse. quando vejo que ele vai se saindo aos poucos paro a frase no meio mesmo.
Fico sentado numa poltrona na sala, poltrona boa, mas a disposição da sala da a impressão de ser um deposito. e tem uns carrinhos e umas caixas vazias atras dá porta que aumenta essa sensação. É realmente uma sala de operações, do tipo simples. tem uma maca, e os tubos e luzes que cirurgiões normalmente precisam. A poltrona é de frente para o vão da porta, que me mostra varias pessoas passando pelo corredor por onde eu vim, bem mais no clima de trabalho e cotidiano que a sala anterior. Tem uma mulher sentada que não parece fazer nada, e neste local onde ela senta um espaço que parece ser a central das enfermeiras. Uma delas parece comentar sobre não haver nada nos recipientes nas paredes. Serão recipientes de prontuários os pacientes?
As pessoas que veem na direção da porta sempre dão a impressão que vão entrar para me atender. Eu julgo o motivo disso ser a má localização da porta, que é logo na curva do corredor, assim as pessoas vão de frente para ela até poderem virar a direita, para áreas que eu não conheço. Um homem entra por uma porta diferente, de cadeira de rodas, conduzido por um enfermeiro. Fala com alguem que não vejo, "Dessa vez não é por causa da batida" falou algo assim, em tom de humor. Finalmente um doutor vem vindo na direção da porta, parando para falar com funcionários e pacientes no meio do caminho, e entra na sala de Procedimento.
Aperta minha mão, pergunta o que há, explico com uma sensação esquisita, a mesma desde que falei com a recepcionista, acho que é a dificuldade de falar, e de não saber o que ele quer saber. não tá vendo? confirma o meu nome, "Mateus Mendes né?", aponta a maca, pergunta algumas coisas, penso em lhe dizer que estava ali por acaso. veste luvas, pega um bisturí lacrado, pergunta a quanto tempo está assim, apalpa para saber aonde doí, começa a mecher com o bisturí, corta um pouco, pressiona um pouco, "tinha um pouco de pus, já saiu". E eu preocupado se não ia poder trabalhar a tarde. pede que eu fique pressionando com uma gaze que me dá, me dá também um monte de bandaids redondos iguais aos de quando se tira sangue. Eu agradeço, ele diz para voltar quarta, umas sete ou oito horas da manhã. merda. ok. Lembro que não fiz ainda os exames que a outra médica mandou por causa da sinusite. Pergunto o nome dele, não lembro direito mas acho que é Carlos.
Saí presionando com a gaze. queria ver no espelho. entrei no banheiro. Sério só isso? bem, é bom eu acho. Lavei a mão, não tinha papel, saí. Avisei a uma funcionária sobre o fato.
De 12h vejo que ainda tem muito tempo para ir pro sesc. penso onde vou almoçar. o transito, nulo. estava parado junto com ele. Decidi almoçar com minha família, no ETC, e ir de bicicleta para o trabalho, de bicicleta é muito melhor que de carro nesse transito. Como camarão, porco e tomo sol no caminho para o trabalho, coisas que não colaboram muito com melhorar de uma inflamação.
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